Friday, December 25, 2009

O mais doloroso poema





Não há mais ninguém no bar
nem na varanda onde casais dançavam.

Todos foram tomar seu trago, seu banho,
e deslizar preguiçosa e espalhafatosamente
em sonhos de seda, de luxúrias não resolvidas,
de imagens borradas de tantos drinks.

Eu te amo.
E não há quem ouça, somente gatos nos muros
para testemunhar a falência dos imensos ideais
juvenis ao som de Chet Baker e flores brancas na janela.

Sou a criatura mais fascinante deste planeta
depois dos felinos e das libélulas.
E também imperceptível de tanta fineza.
A elegância em excesso faz a invisibilidade
transformar-se em grosseria.
Comecei a falar palavrões demais.

Eu te amo.
E só na madrugada posso imaginar
se seria certo ou errado te mandar este poema,
sem utilidade ou propósito claro,
porque não sei se te quero mais.
Mas o desejo continua... e minha ética se debate
para descobrir se o teu rosto
não substitui o de qualquer homem que servisse nesta noite.

Meu sonho se embrulhou de frio
num jornal antigo e se cobriu de fumaça de cigarro
dos pedestres que esperavam o ônibus no ponto.
Como um mendigo, maltrapilho e faminto,
após uma longa noite de delírios de febre solitária.

Tuesday, December 15, 2009

Lilás






Lilás - eis a cor
dos mais devastadores crepúsculos.
Na estrada e pela janela
a copa das árvores escondem
partidas e lamentos.

Lilás na corda do violoncelo
azul e vermelho na corda do violão
partidas e blues mancham
o fim de um dia sem ar.

Lilás é a cor
da inocência que se deita como feto
no riso do bêbado no canto do bar.
Ela que pensávamos ter navegado
para mares onde não exista dor.

Hiperbórea, casta, mas há vasta consciência.
Lilás é a cor da mente dos anjos.
Eles que seguram a espada
enquanto rogam a Deus por aqueles que sacrificam.

Lilás, cor da música em mi bemol menor.
Tinge de óleo e aroma a sujeira que deixaram
os exércitos usurpadores, os violentos.
Cor dos fins, das saídas, dos nobres passos atrás da porta.

Lilás que se ergue em frio cinza azulado
nas lágrimas da anciã sorrindo sobre a memória.
Cor da morte do grande amor,
cor da lembrança de grandes dias em ânsias por noites de paz.