Friday, January 29, 2010

Nicholas



I have been mourning you for days and nights
I have been mourning and crying to the moon
You would have waited for me if you knew I was mourning.
Such a black beauty could not last upon the white earth
but a star remains alive in its long flying light.

You are so beautiful that it hurts
deeper than a stone above the abyss.
You are so pale and dark in the mist
that my heart seem to stop for the glory of Infinity.
You could have waited for me over the creek.

I forgot the cruel world and its beasts
I flew light and everywhere, rose high and looked for you
but your face seemed to fade in the mist among the black and white
like horses in the field of rice and sand, near the river.

The sound hurts and all the poets are all dead
it means we can rest now, my dearest love.
We can see the ocean and walk over the fields
of flowers, green leaves and dead bodies of poets.
Poets fallen like feathers or stones taken by gods from the hills.

You could have waited, how could you be so impatient?
Now they'll know you were here when you're gone.
And I will stay on the train station looking to the lines
and crying for your black hair in the wind that's gone.
Everything gone to the hole of time, through the eye of Forgetting
but I desperately cannot forget in the early morning
the prayers your hair sent to the tiny gods of thunderstorms.

We shared ours hands on the creek
and we wore clothes made of plants and shells.
It hurts so much I cannot write anymore.
I feel as I was going to vomit my spirit if I had one.
It hurts, Nicholas, and you thought I didn't know
what love was, how it feels to be in pain every day and night.
I wish you had waited on the river.

For the first time I know the horrible pain of your loss
but I won't last on this earth for I'm going after you
wherever you are I will find you and we shall laugh and sing.
I promise I won't stay and watch your pictures as a dying rose.

I have already died many times watching the river take your shadows away.

Tuesday, January 26, 2010

História da minha passagem





Piso nas folhas escuras, exalam um perfume do verde morto.
O aroma da caverna da existência - nela que, entretanto, não entramos.
Vem me chamar para casa, vem me seduzir pela combinação do coração e
de seu imenso véu, pelas harmonias estranhas de uma música
que ninguém ensinaria neste mundo.

Ninguém entende uma só palavra, então já me calei.
Não me interessam as políticas e reestruturações,
as organizações de pesados eventos e reuniões de pessoas
que não são mais do que seus cargos e funções, elas nunca existiram.
Tomo o ônibus pela manhã em que chove fumaça escura
e é apenas meu corpo que adentra a maquinaria.

Meus olhos apontam para onde minha alma passeia.
E lá estou nos campos molhados e a grama enfeitiçada,
e na praia rochosa sob uma chuva, como suaves palavras
cantadas por deuses-músicos que mal pisam o ar.
Enlouqueci, e assumo a liberdade dolorosa da esquizofrenia.
Nela encontro meus deuses silenciosos e sacrifico a eles
pedaços de nuvem e notas simples, sem vibrato, do velho violoncelo.
Nela encontro meus gatos e outros animais partidos deste mundo triste,
fantasmas que correm como crianças e maçãs verdes trazidas pelo mar
e conchas que saltam da neve, descobertas na arqueologia do delírio
em que nos lançam a noite, o tempo, a ausência da lua e a perda da memória.

Fecho a porta e jogo a chave pelo buraco que dá para um abismo.
Cerro as cortinas destes dias e não vejo nem ouço quem me fala.
Apenas observo, e assisto, o rio, o espaço, as estrelas, os cometas, as supernovas.
Falam-me as trompas, as guitarras, os oboés e violinos
contam-me uma história de quando eu nascer de novo.

Saturday, January 16, 2010

Nunca quis literatura




Bastava-me música.
Que o pardal viesse e bebesse água
do vaso de azaléia e o gato ficasse a olhar
e eu me risse quando ele corresse atrás do pássaro.

Que eu amasse enormemente
e fosse amada na lua nova em retorno,
no túnel de chuva, na apatia das terças-feiras.
Na praia ao pôr-do-sol de um verão ditatorial,
que eu visse os anéis de Saturno a libertarem
a Terra do domínio maoísta do tempo e das temperaturas.

Bastava-me caminhar na grama com pés descalços
e tocar música com o violoncelo, amigo discreto,
a atrair os gatos da rua e os abutres desprezados
para uma festa de inválidos regada a minuetos e vinhos.
Bastava-me o canto e o cheiro de jasmins depois da chuva
e as formigas entre as pedras movendo suas coisas
anunciando chuvas torrenciais entre as pedras e coisas.

Bastava-me correr. Ser só. Que ninguém me visse.
Que não me falassem, que não competissem
nem me arrastassem para suas opiniões
cheirando a lixo e perfumes com as mesas
cheias de cadáveres e eu tendo que sorrir para deputados
e professores-poetas segurando suas taças de champanhe
tão finamente e cigarros entre os dedos, altos.

Que me larguem e me esqueçam. A rua amanheceu fria.
Para ser, dizem, é preciso ser duro, persistir e trabalhar duro,
cinzelando e se sujando e criando gastrites e dores lombares.
Por que pressupõem tais prazeres pervertidos?
Não frequento Paraty, nem Frankfurt, nem qualquer lugar
onde os elegantes se reúnem em fóruns, mesas-redondas
(falam tnto que suas bocas se abrem a cada dia mais)
pois não conheço Euclides da Cunha nem Borges,
nada sei em detalhes porque não passei noites em tomos.

Sou uma simples moça no campo, trabalho na vinha
só para meu sustento, e para alimentar meus animais.
À noite toco música e meu violoncelo me basta.
Predisseram que eu seria intelectual, poetisa, literata, diplomata.
Nunca quis literatura. Bastava-me o rio à tarde e minhas claves.
Literatura eu mancho com vinho e biscoitos caseiros.

Friday, January 01, 2010

Ano Novo


Hoje os anões deixaram
as meninas brincarem na rua.
Não choveu, mas não fez sol.
E ainda vejo da janela a jasmineira moribunda.

Não posso brincar na chuva.
Também não perderia tempo
expondo-me aos calores aborrecidos do sol
num verão endemoniado como um czar.

Mas não há mais livros nem discos
a serem ouvidos. E outros ainda riem
e se regozijam em manter-se acordados à noite.
E mostrarem suas olheiras para serem intelectuais.

Tenho medo, os gatos miam e os morcegos
estão por toda parte, não há esperança
É tempo de guerra, é tempo de carpideiras que uivam.

Sinto que morrerei em poucos dias.
Preciso reunir minhas últimas energias
para dar um concerto a toda gente,
mas meu violoncelo está desafinado
e as cravelhas não me obedecem.
Sinto dores nas costas e um anjo caído
falou-me ao ouvido. Era pálido e tinhas olhos de cão.

Dia primeiro de janeiro. A manhã era cristalina,
a tarde embaçou, a noite se tornou febre amordaçada.
Resta ouvir as antigas peças, e encontrar as muitas horas
perdidas entre as linhas da partitura, em dias de mormaço,
em noites de chuva sem propósitos, em sonhos mortos
de crianças que adoeceram e se tornaram feios adultos deformados.



*Pinturas de Séraphine de Senlis.