Sunday, March 30, 2008

Pôr-do-sol eterno

Clique no título.
O sol de fato nunca se põe. Pode-se viver constantemente sob crepúsculos. Ah, bela vida a do crepúsculo. Assim deve ser a vida após a morte. Ela existe, e é um constante viver arrebóis.

Friday, March 28, 2008

Silence




(Thomas Hood)

There is a silence where hath been no sound,
There is a silence where no sound may be,
In the cold grave--under the deep, deep, sea,
Or in wide desert where no life is found,
Which hath been mute, and still must sleep profound;
No voice is hushed--no life treads silently,
But clouds and cloudy shadows wander free,
That never spoke, over the idle ground:
But in green ruins, in the desolate walls
Of antique palaces, where Man hath been,
Though the dun fox, or wild hyena, calls,
And owls, that flit continually between,
Shriek to the echo, and the low winds moan,
There the true Silence is, self-conscious and alone.

Convento

Nestes dias monásticos
de acalentar orações e cânticos
bebo licores de uva escondida
da Madre Superiora.

Nesta pobreza eremita
na pedra esquecida
aqueço na pequena bolsa de pano
os sons daquele que, escondida, amo.

Nos jardins noturnos
atrás do muro exterior
me posto em febre a ouvir
escondida, as cadenzas e grilos sob a lua.

Durante os rosários de mil dias
teço suspiros, escondida, em agonia
aos teus cabelos e olhos cheios de luz
mas a Madre pensa que é para o Menino Jesus.

Sunday, March 16, 2008

Mario Quintana - O Tempo

O despertador é um objeto abjeto.
Nele mora o Tempo. O Tempo não pode viver sem nós,
[para não parar.
E todas as manhãs nos chama freneticamente como um velho
[paralítico a tocar a campainha atroz.
Nós
é que vamos empurrando, dia a dia, sua cadeira de rodas.
Nós, os seus escravos.
Só os poetas
os amantes
os bêbados
podem fugir
por instantes
ao Velho... Mas que raiva impotente dá no Velho
quando encontra crianças a brincar de roda
e não há outro jeito senão desviar delas a sua cadeira de rodas!


Porque elas, simplesmente, o ignoram...

Saturday, March 01, 2008

Pássaro que Fica ou Vai




Pássaro que fica ou vai
A dança permanece
Nos teus braços imaginários adormeço
sob asas delgadas eu esqueço

Você eu amarei sempre. A cada manhã
que as lâmpadas dos postes se apagarem
a cada entardecer em que as cigarras cantem
Não fujo, minha sina é ouvir teu solitário lamento

O som do riacho é a eternidade.
Sonhar teus cabelos minha canção.
A ave levanta seu vôo na verde escuridão
e deixa ilesas as nuvens apaixonadas.

Antes a morte levará minhas lembranças
e a velhice tomará do meu corpo a tensão do amor
mas isso nada leva embora, a poesia e a música
que tuas finas mãos lançaram a mim
como um falso casto véu púrpura perfumado de estupor.