Wednesday, February 15, 2012

Os vencedores



Os filhos da puta vencem sempre.
Basta que lhes dêem um telefone e uma oportunidade.
Sorria para eles, e os filhos da puta vão devorar até sua carcaça seca, sem vodka nem coca-cola. Nem água.

Eles fabricaram estas coroas de espinho e os combustíveis verde-lama
que, deliciosamente envergando nossas narinas viciadas, abrem caminho
para os vermes brancos, nazistas espirituosos, o que bebem sopa à noite,
os abstinentes, sóbrios, lúcidos donos da bossa, os que seguram as listas de presença,
os que detêm as chaves das prisões e os valores de nossas contas bancárias,
os que têm os números de telefones de cabeceiras dos outros filhos da puta com poderes.
Eles fazem com que você sinta o terror de sentir terror para que tenham todos os ingredientes
à disposição de bartenders canalhas, os que têm os instrumentos perfeitos de dor,
a prataria eficiente do bar, onde os pobres, os fracos, os iludidos
beberão licores sórdidos, com absinto e amarula passadas da validade,
Fra Angelicos tristes cheios de terra e  uísques perfumados a Solidão.

Os filhos da puta são todos. Porque os que mandam são os que obedecem
e os que obedecem são os que desejam poder, os que obedecem
devem ser temidos a todo custo e varridos numa batalha universal
das que Aquiles matam Heitores. Enquanto gaivotas planam.

E assim teríamos notícia de uma verdadeira redenção,
e não esses sorrisos de desculpa fétidos, não os "eu gosto de você",
"você é uma boa pessoa".
Porque você não é uma boa pessoa. Você é um filho da puta
bebedor de drinques fedidos feitos de folhas podres maceradas,
você que copia os poemas e as músicas dos outros,
você que quer competir com os deuses escrevendo
volúpias de meninos em forma de epopéias,
você, cópia infame do estilo de anjos caídos.
Os gatos riem dessa gentinha. As genitálias desses homens e mulheres débeis
são de pasta de amendoim.

Os filhos da puta vencem e são a multidão gorducha,
os que se alimentam de sol, de talento alheio, de verdade.
Essa tem sido a mortandade das gaivotas e gatos e vaga-lumes.
Gases intestinais dos filhos da puta usuais.

Os deserdados pelas putas. Os que terão suas gargantas dilaceradas
pelos anjos de vingança, pela chuva fria, pelo fogo da lança justa.

Monday, February 13, 2012

Suave mare magno




Na vitrola gira o disco de minha mãe.
À tarde gritos são abafados pela vida alheia.

No verão, quando as algas vermelhas
tornam o mar sanguinolento
e as águas-vivas devoram o próprio corpo
de tão densamento cruéis e
cheias de veneno desumano,
e aparecem como gelatinas ruins na areia,
sentar-se na praia é um ato de temor ao demônio.

A polícia trama mais um golpe letal
enquanto os gatunos adormecem na jogatina.
O uísque é vendido nos quiosques
e a brisa nunca foi tão opaca de restos mortais
de flores secas e insetos verdes,
espíritos de mortos em batalhas marinhas.

Acordamos nas pedras nus e distintos.
Não bebemos ontem, mas o mar tem gosto amargo.
Ainda assim, encaramos o mergulho como o último de nossas vidas
e as algas desaparecem por um momento.
Somos eternos e lívidos, mas livres.

O disco traz Ella Fitzgerald e é como um grande final.
A lua está presente mas não posso olhar para ela,
como uma Górgona refugiada mas ainda vil,
que observa o balneário suave ouvindo a música
de Nat King Cole entre taças de martini.