Wednesday, March 21, 2012

Sonata do oblívio




Sim
esqueço-me no minuto seguinte
do poema em que pensei.

Sim,
acabou no começo,
qual feto abortado,
qual lâmpada queimada ao acender-se.

Tal a inutilidade atual de cérebro
que seja meu ou de outrem.
De agendas, computadores e alertas de celular.

Esqueço-me logo em seguida.
Palavras, projetos, intenções.
Não confie em alcoólatras desalmados,
os sem amor, os sem futuro, os sem louros e créditos.

Sim, esqueci-me de tudo,
do teu nome, do teu rosto, das circunstâncias
em que aparecias no passado.
No minuto seguinte à decisão,
hesitei na curva da linha férrea,
e descarrilou-se a maquina,
deixando dezenas de mortos.

Sunday, March 18, 2012

Mais um poema



Caminho sobre o silêncio
das moscas varejeiras que
disfarçam-se de gaivotas e leões.

Sob as pedras estão as  flores
esquecidas, pequenas e brancas.
Isso é prova desse amor
em alguma forma distorcida e
guardada nas linhas do tempo,
nas cirandas das existências,
nos bares das reencarnações.

Não sou de crer em coisa que valha.
Mas todas as noites meus sonhos tecem orações por si mesmos,
crentes no cérebro de uma ateísta devota.
Oram pelo reencontro, pela iluminação,
pelo tratado de paz.
Que me perdoes como o fizeram os japoneses
e que eu te perdoe, como mães que perdoam
filhos assassinos.
Para que eu me torne em sua alma
o uísque que és na minha.

Desejo com toda a brancura da neve em meu coração
e toda a lava em minha memória
para que me tenhas amor, e que eu continue a beber dessa lívidez
vermelha encarcerada em poços e calabouços esquecidos pelos arquivos públicos,
e que essa taça de triste e azul absinto se torne pomba e beija-flor,
e que seja exemplo para o mundo inteiro, de música e beleza,
união e vida explodindo em eterna floração.