Tuesday, October 30, 2007

Sonata "O instrumento do Diabo"

I.
Você é meu reinado de estultícies
A esfinge que soberba se ergue em meu país
O silêncio masculino que massacra a casta razão
Você é minha floresta de horrores inauditos e belas górgonas.

II.
Vinho, dá-me com tua palidez espumante, a leveza
Dá-me o desprendimento, dá-me paz.
Meu coração é uma montanha de inconsistência
e desejos insaciados pelo silêncio do homem que amei.

III.
Uma vez uma cigana me disse:
dedica-te aos mistérios do mundo.
Minha profissão, minha hora, meu reino
é o de te amar, e auscultar nuvens anis.

Monday, October 29, 2007

29 de outubro

29 de outubro

dia azul e os carros violam rios
dia claro que corta o desvario

dia de lembrar, recoradação e consciência
são doces irmãs fiéis que dançam na chuva

a canção que canto não me ensinaram
aprendi com as cigarras tristes os grilos irritados

não me ensinaram a amar, por isso me embriago
bebo meu drinque, e me ponho a correr pelas alamedas

dia do renascimento, sempre-viva a flor descrente
viva aqui estou, apenas gestos no espaço, um dia desvanecidos

cantos e palavras e gestos, somos a forma, o conteúdo é a linha
fina arte que representa, máscara que dança sem líquidos interiores

sem substância que não o vestido, os deuses caminham e dançam
a luz toca um alaúde que é uma miríade cromática, palheta andante

os carros cortam o desvario e bombardeiam espíritos
covas profundas esperam pelas almas dos poetas e das libélulas

enquanto jovens, jogamos facilmente com as formas emotivas
e as luzes cegam o entardecer que poderia ser sombrio

mais uma madrugada de bruxas e luzes incandescentes
tenho medo, e escrevo para que elas não me devorem

temo tudo, e adormeço num carrossel de lembranças
e inconsciência é a ordem da noite, e dos dias, e dos crepúsculos

adormeço com meu amor no coração, e a morte nos olhos
e água nos cabelos, e fogo nos olhos, e ar nos sonhos

espero um despertar de hortelãs e passacaglias
e rondós e calmas luzes, onde estarei de branco, e uma viola.

O mundo é um palco - Shakespeare

All the world's a stage,
And all the men and women merely players:
They have their exits and their entrances;
And one man in his time plays many parts,
His acts being seven ages. At first the infant,
Mewling and puking in the nurse's arms.
And then the whining school-boy, with his satchel
And shining morning face, creeping like snail
Unwillingly to school. And then the lover,
Sighing like furnace, with a woeful ballad
Made to his mistress' eyebrow. Then a soldier,
Full of strange oaths and bearded like the pard,
Jealous in honour, sudden and quick in quarrel,
Seeking the bubble reputation
Even in the cannon's mouth. And then the justice,
In fair round belly with good capon lined,
With eyes severe and beard of formal cut,
Full of wise saws and modern instances;
And so he plays his part. The sixth age shifts
Into the lean and slipper'd pantaloon,
With spectacles on nose and pouch on side,
His youthful hose, well saved, a world too wide
For his shrunk shank; and his big manly voice,
Turning again toward childish treble, pipes
And whistles in his sound. Last scene of all,
That ends this strange eventful history,
Is second childishness and mere oblivion,
Sans teeth, sans eyes, sans taste, sans everything.

Friday, October 26, 2007

Anoushka

Uma gigante negra borboleta
dançou atormentada à minha janela
enquanto as cigarras vadias
entoavam as velhas madrigais
e monstruosas estrelas tensas
nasciam no céu de outubro.

A música que ouço não é deste mundo.
E tocas, divina Anoushka,
tocas tua cítara, e bebo meus anis.

O doce feminino toca
os fios da teia feminina.
Uma flor no verão
alimentada pela chuva-madre
que desce a encosta sem alarde.
A inteligência da lince
encontra a leveza do beija-flor.

Divina Anoushka,
toca a infinitude para o meu coração.

Sunday, October 21, 2007

Tagore e Lalla


Lalla, poetisa sufi

Let them jeer or cheer me;
Let anybody say what he likes;
Let good persons worship me with flowers;
What can any one of them gain I being pure?


If the world talks ill of me
My heart shall harbour no ill-will:
If am a true worshipper of God
Can ashes leave a stain on a mirror?

Rabindranath Tagore, poeta indiano

BEAUTY

Beauty is truth's smile
when she beholds her own face in
a perfect mirror.


Beauty is truth's smile
when she beholds her own face in a perfect mirror.


Beauty is in the ideal of perfect harmony
which is in the universal being;
truth the perfect comprehension of the universal mind.

Friday, October 12, 2007

Quando eu morrer leiam no meu velório

Shall I Compare Thee To A Summer's Day?

by William Shakespeare (1564-1616)


Shall I compare thee to a summer's day?
Thou art more lovely and more temperate.
Rough winds do shake the darling buds of May,
And summer's lease hath all too short a date.
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimm'd;
And every fair from fair sometime declines,
By chance or nature's changing course untrimm'd;
But thy eternal summer shall not fade
Nor lose possession of that fair thou ow'st;
Nor shall Death brag thou wander'st in his shade,
When in eternal lines to time thou grow'st:
So long as men can breathe or eyes can see,
So long lives this, and this gives life to thee.

Thursday, October 11, 2007

Wednesday, October 10, 2007

La verité

Um martini seco
e um adeus
Um espumante
e um louvadeus
Cerveja de trigo
e uma bicicleta que passa
esquecendo o tempo antigo
Fico com o gelo
no martini
e os livros de Álgebra
que zombam das bebidas
sobre a mesa.
Muita solidão divina
ri da covardia
fresca em 18% de álcool.