Tuesday, November 29, 2011

Cançoneta vampiresca



Devora-me de dentro para fora
a Esfinge do Eterno Retorno.

Pica-me a pele descamada de sol
o lastro do escorpião.

Agora sei que não há mais caminhos no escuro
acabou-se o atalho, findaram as bifurcações.

O amor é a morte antecipada e vestida de cetim e champanha.
Não há máscara ou perfume, mas o abismo e o céu diante de si.

O amor, longe do que pensam, é racional.
é frio, é ardente, inócuo, vermelho e transparente.
É a chama viva despedaçando a carne do pecador.

É eterno, é vampiresco: não morrerá
mesmo com punhal, talvez uma estaca no coração.

Devora-me eternamente o fogo infernal de cem eras.
Devora-me o luxo de morrer de amores.


Sunday, November 20, 2011

Memória reencontrada



Antes da palavra a respiração represada
Antes do encontro o coração queimando o corpo em
refluxos de fogo desconhecidos e imprevistos

O corpo solto e retesado
é dança
A alma alheada e espantada
é teatro
O toque ardente e sem intenção
é amor

Canto entre eras, após cataclismas
Entre memórias de batalhas em campos áridos
entre poemas em cemitérios, escritos na poeira
com os dedos frios sobre as lápides.

Jogos de azar, jogos de reis e políticos
isto é o amor, e nada mais há que ser contado
em canções doces, em tons maiores, em fontes de água e mármore.

O amor é uma rede trançada por encantamentos
de bruxas vestidas de vento, nuas e enlouquecidas de luto.