Wednesday, December 13, 2006

Desiderata

Desiderata

Go placidly amid the noise and haste,
and remember what peace there may be in silence.
As far as possible without surrender
be on good terms with all persons.
Speak your truth quietly and clearly;
and listen to others,
even the dull and the ignorant;
they too have their story.

Avoid loud and aggressive persons,
they are vexations to the spirit.
If you compare yourself with others,
you may become vain and bitter;
for always there will be greater and lesser persons than yourself.
Enjoy your achievements as well as your plans.
Keep interested in your own career, however humble;
it is a real possession in the changing fortunes of time.
Exercise caution in your business affairs;
for the world is full of trickery.
But let this not blind you to what virtue there is;
many persons strive for high ideals;
and everywhere life is full of heroism.
Be yourself.
Especially, do not feign affection.
Neither be cynical about love;
for in the face of all aridity and disenchantment
it is as perennial as the grass.
Take kindly the counsel of the years,
gracefully surrendering the things of youth.
Nurture strength of spirit to shield you in sudden misfortune.
But do not distress yourself with dark imaginings.
Many fears are born of fatigue and loneliness.
Beyond a wholesome discipline,
be gentle with yourself.
You are a child of the universe,
no less than the trees and the stars;
you have a right to be here.
And whether or not it is clear to you,
no doubt the universe is unfolding as it should.
Therefore be at peace with God,
whatever you conceive Him to be,
and whatever your labors and aspirations,
in the noisy confusion of life keep peace with your soul.
With all its sham, drudgery, and broken dreams,
it is still a beautiful world.
Be cheerful.
Strive to be happy.
Max Ehrmann, Desiderata, Copyright 1952

Wednesday, October 11, 2006

Diabólica

Diabólica

Para FP

O demônio desenha
Sonhos de pássaros azuis.
Por que prendes meu canto
Com fitas brancas, e minhas
mãos não alcançam a lâmina?
O demônio canta em português.

Gaivotas sanguinárias
Abrem meu corpo
E de dentro, mas
Elas não fogem.

Por que sorris e sonhas
Com olhos de flores,
Devorador de rins?

O diabo sopra nos ouvidos perfurados
Dos amantes que definham.

Monday, September 11, 2006

Os piratas voltaram

Dêem adeus às suas garrafas de rum!

Os piratas de Armarandra
Decapitaram mais um político
Os piratas com uns vorazes pardais
Violaram o ventre inchado
De mais um legislador.

As nuvens escurecidas
Dançam frias
Amargas homilias
De corpos no mar.

Os piratas mutilaram
Mais um senhor jurista
Os piratas apunhalaram
Os eunucos do senador.

Vejam os tigres que reaparecem
Entre as castanheiras,
E as amapolas florescem negras.

Os piratas decapitaram
Mais um candidato a vereador
E devoraram
Os últimos damascos.

Monday, August 28, 2006

Gustav Mahler, Sinfonia no. 8

Sábado assisti à Sinfonia, chamada "dos Mil", na Praia de Copacabana. Já era fã de Mahler, mas a experiência que tive foi mística. Abaixo está um pouco do texto, que aliás é em Latim. Por favor, quem sabe Latim, me diga alguma coisa! Só vi a tradução da apresentação, o hino é lindo. A descrição que o próprio Mahler oferece é exata. Parece que aquilo foi escrito exatamente pra ser executado sob as estrelas, ao lado do mar.

Gustav Mahler - Symphony No.8 "Symphony of a Thousand"

I have just finished my Eighth! It is the greatest thing I have as yet done ... Imagine that the whole universe begins to sound in tone. The result is not merely human voices singing, but a vision of planets and suns coursing about.


Mahler on his "Symphony of a Thousand" in a letter to conductor Willem Mengelberg

Key: E-flat Major
I

Hymnus: Veni, creator spiritus
Text


Veni, creator spiritus,
Mentes tuorum visita;
Imple superna gratia,
Quae tu creasti pectora.
Qui Paraclitus diceris,
Donum Dei altissimi,
Fons vivus, ignis, caritas,
Et spiritalis unctio.
Infirma nostri corporis
Virtute firmans perpeti;
Accende lumen sensibus,
Infunde amorem cordibus.
Hostem repellas longius,
Pacemque dones protinus;
Ductore sic te praevio
Vitemus omne pessimum.
Tu septiformis munere,
Dexterae paternae digitus.
Per te sciamus da Patrem,
Noscamus (atque) Filium,
(Te utriusque) spiritum
Credamus omni tempore.
Da gaudiorum praemia,
Da gratiarum munera;
Dissolve litis vincula,
Adstringe pacis foedera.
Gloria Patri Domino,
Deo sit gloria et Filio
Natoque, qui a mortuis
Surrexit, ac Paraclito
In saeculorum saecula.
Mahler did not use the text in parenthesis.

Monday, August 07, 2006

Despedida

Deixo-te, mas na alma
Há rios que transbordam.
Despeço-me gentilmente
Servil e respeitosa.
Silencio diante das câmaras
Delicadamente iluminadas.

Deixo-te sem revoltas
Sem paganismos e grandes ares
Sem rancores de prisioneiros.
Deixo-te sem rumores
E tranco a porta ao sair.
A mesa, sem migalhas,
Repousa na penumbra
Da tarde de um inverno puro.

Queria ter te deixado
Um largo patrimônio
Ou uma obra da qual
Tivesses algum proveito.
Não sendo isto possível, calo-me
no campesinato satisfeito
de minha livre indigência.

Deixo-te coroas de louro
Desbotadas pela falta de uso.
Deixo-te cânticos meio escritos
E taças de licor pela metade.
Deixo-te nenhures,
À porta, à estrada.

Monday, July 17, 2006

Poema de Emily Dickinson

I'm nobody! Who are you?
Are you nobody, too?
Then there's a pair of us — don't tell!
They'd banish us, you know.
How dreary to be somebody!
How public, like a frog
To tell your name the livelong day
To an admiring bog!

Saturday, July 15, 2006

O primeiro poema que me fez chorar...em português

Romance sonâmbulo

Federico Garcia Lorca

(A Gloria Giner e a
Fernando de los Rios)


Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
O barco vai sobre o mar
e o cavalo na montanha.
Com a sombra pela cintura
ela sonha na varanda,
verde carne, tranças verdes,
com olhos de fria prata.
Verde que te quero verde.
Por sob a lua gitana,
as coisas estão mirando-a
e ela não pode mirá-las.

Verde que te quero verde.
Grandes estrelas de escarcha
nascem com o peixe de sombra
que rasga o caminho da alva.
A figueira raspa o vento
a lixá-lo com as ramas,
e o monte, gato selvagem,
eriça as piteiras ásperas.

Mas quem virá? E por onde?...
Ela fica na varanda,
verde carne, tranças verdes,
ela sonha na água amarga.
— Compadre, dou meu cavalo
em troca de sua casa,
o arreio por seu espelho,
a faca por sua manta.
Compadre, venho sangrando
desde as passagens de Cabra.
— Se pudesse, meu mocinho,
esse negócio eu fechava.
No entanto eu já não sou eu,
nem a casa é minha casa.
— Compadre, quero morrer
com decência, em minha cama.
De ferro, se for possível,
e com lençóis de cambraia.
Não vês que enorme ferida
vai de meu peito à garganta?
— Trezentas rosas morenas
traz tua camisa branca.
Ressuma teu sangue e cheira
em redor de tua faixa.
No entanto eu já não sou eu,
nem a casa é minha casa.
— Que eu possa subir ao menos
até às altas varandas.
Que eu possa subir! que o possa
até às verdes varandas.
As balaustradas da lua
por onde retumba a água.

Já sobem os dois compadres
até às altas varandas.
Deixando um rastro de sangue.
Deixando um rastro de lágrimas.
Tremiam pelos telhados
pequenos faróis de lata.
Mil pandeiros de cristal
feriam a madrugada.

Verde que te quero verde,
verde vento, verdes ramas.
Os dois compadres subiram.
O vasto vento deixava
na boca um gosto esquisito
de menta, fel e alfavaca.
— Que é dela, compadre, dize-me
que é de tua filha amarga?
— Quantas vezes te esperou!
Quantas vezes te esperara,
rosto fresco, negras tranças,
aqui na verde varanda!

Sobre a face da cisterna
balançava-se a gitana.
Verde carne, tranças verdes,
com olhos de fria prata.
Ponta gelada de lua
sustenta-a por cima da água.
A noite se fez tão íntima
como uma pequena praça.
Lá fora, à porta, golpeando,
guardas-civis na cachaça.
Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
O barco vai sobre o mar.
E o cavalo na montanha

Desenho de Lorca

O Primeiro Poema que Me Fez Chorar

Federico García Lorca (1898 - 1936)

4
ROMANCE SONAMBULO
A Gloria Giner
y a Fernando de los Ríos

Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar
y el caballo en la montaña.
Con la sombra en la cintura
ella sueña en su baranda
verde carne, pelo verde,
con ojos de fría plata.
Verde que te quiero verde.
Bajo la luna gitana,
las cosas la están mirando
y ella no puede mirarlas.

*
Verde que te quiero verde.
Grandes estrellas de escarcha,
vienen con el pez de sombra
que abre el camino del alba.
La higuera frota su viento
con la lija de sus ramas,
y el monte, gato garduño,
eriza sus pitas agrias.
¿Pero quién vendrá? ¿Y por dónde...?
Ella sigue en su baranda,
verde carne, pelo verde,
soñando en la mar amarga.

*
Compadre, quiero cambiar
mi caballo por su casa,
mi montura por su espejo,
mi cuchillo por su manta.
Compadre, vengo sangrando
desde los puertos de Cabra.
Si yo pudiera, mocito,
este trato se cerraba.
Pero yo ya no soy yo,
ni mi casa es ya mi casa.
Compadre, quiero morir
decentemente en mi cama.
De acero, si puede ser,
con las sábanas de holanda.
¿ No veis la herida que tengo
desde el pecho a la garganta?
Trescientas rosas morenas
lleva tu pechera blanca.
Tu sangre rezuma y huele
alrededor de tu faja.
Pero yo ya no soy yo.
Ni mi casa es ya mi casa.
Dejadme subir al menos
hasta las altas barandas,
¡Dejadme subir!, dejadme
hasta las altas barandas.
Barandales de la luna
por donde retumba el agua.

*
Ya suben los dos compadres
hacia las altas barandas.
Dejando un rastro de sangre.
Dejando un rastro de lágrimas.
Temblaban en los tejados
farolillos de hojalata.
Mil panderos de cristal,
herían la madrugada.

*
Verde que te quiero verde,
verde viento, verdes ramas.
Los dos compadres subieron.
El largo viento dejaba
en la boca un raro gusto
de hiel, de menta y de albahaca.
¡Compadre! ¿Dónde está, dime?
¿Dónde está tu niña amarga?
¡Cuántas veces te esperó!
¡Cuántas veces te esperara,
cara fresca, negro pelo,
en esta verde baranda!

*
Sobre el rostro del aljibe,
se mecía la gitana.
Verde carne, pelo verde,
con ojos de fría plata.
Un carámbano de luna
la sostiene sobre el agua.
La noche se puso íntima
como una pequeña plaza.
Guardias civiles borrachos
en la puerta golpeaban.
Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar.
Y el caballo en la montaña.

Monday, July 03, 2006

Le Pont Mirabeau

Le Pont Mirabeau
Sous le pont Mirabeau coule la Seine
Et nos amours
Faut-il qu'il m'en souvienne
La joie venait toujours après la peine

Vienne la nuit sonne l'heure
Les jours s'en vont je demeure

Les mains dans les mains restons face à face
Tandis que sous
Le pont de nos bras passe
Des éternels regards l'onde si lasse

Vienne la nuit sonne l'heure
Les jours s'en vont je demeure

L'amour s'en va comme cette eau courante
L'amour s'en va
Comme la vie est lente
Et comme l'Espérance est violente

Vienne la nuit sonne l'heure
Les jours s'en vont je demeure

Passent les jours et passent les semaines
Ni temps passé
Ni les amours reviennent
Sous le pont Mirabeau coule la Seine

Vienne la nuit sonne l'heure
Les jours s'en vont je demeure
Guillaume Apollinaire (1880 - 1918)

Friday, June 30, 2006

Levante!

Levante!

No cemitério de tílias acesas
erguemos as catapultas de flores

e descemos a âncora de estertores
no cais sonâmbulo da noite

E na capela dos santos açoites
despertamos as putas submissas

Sacolejamos as canelas mestiças
nos ninhos de mórbidas crianças

e brandimos vermelhas lanças
nos esgotos dos legisladores

e erguemos navios de estertores
nas marinas de pálidas flores
e pálidos de regozijo infernal
rasgamos o ventre angelical
das velhas eras de brancos terrores.