Sunday, July 31, 2011

Canção I



No teu coração e no teu verso, um desejo.
Nos teus passos de guerreiro, uma memória triste.
Na tua lâmina, uma desesperança e uma canção.

O amanhecer coleta notas extras e flores desperdiçadas.
A noite recebe corpos mutilados pela Deusa da Vingança.

Um pequeno piano, teclas de metal enferrujado
e cantos de anjos infantes mortos e gatos desaparecidos,
pedras que amantes deixaram na praia durante a madrugada.

Sorte que desenho, caminho escrito nas cartas
de videntes de olhos deformados, música de pedintes
que pagamos com moedas de um real em potes de sorvetes,
o amor é um luxo como uma cantora de voz negra e
olhos claros, uma volúpia como a visão de Diana nua no rio.

Monday, July 04, 2011

Melancholia




O êxtase nos teus olhos verdes
encontraram o oceano e do píer
meu corpo se lançou às águas geladas do desejo
insatisfeito, da saudade, no inverno sem música.

Nos teus cabelos louros meus dedos desenharam
uma canção de rua, uma noite numa praia, um drink exótico,
e o vazio do terceiro dia em que pisaste nas minhas partituras.

Como ar necessito de noite embalada em ragtimes cubanos,
de paixão travestida em mantos negros de cocotas macabras,
do êxtase de um beijo na escuridão de uma harmonia entre contralto e piano.

Mas o mar é implacável e o inverno juiz demoníaco na terra negra da morte.
A luz dança na manhã em que esperei na rua por uma resposta
e a chuva hesitou em cair, tentando responder às suas próprias perguntas.
De repente a Natureza tomou consciência de si e revoltou-se
na saudade, na ausência, no espanto, na excessiva claridade.

O amor tornou-se uma fantasia de crianças, matrioshkas coloridas.
Levamos como suvenires na mala e colocamos na janela,
mas o silêncio continua após o afogamento, após o prazer extremo,
após a fuga atonal e a noite fria entre garrafas de vodka na calçada.

Não se retorna à ingenuidade, como uma virgem roubada
na floresta por um deus egoísta.
Mas a música permanece companheira, de bar, de manhãs, de madrugadas tristes.
de tardes sonolentas, a perda do argumento, o estupor da ignorância,
antes do parto e após o último suspiro, os olhos cegos, o corpo no mar.