Tuesday, April 29, 2008

H.D. Thoreau

"I once had a sparrow alight upon my shoulder for a moment, while I was hoeing in a village garden, and I felt that I was more distinguished by that circumstance that I should have been by any epaulet I could have worn."

Joni Mitchell - Woodstock

Sunday, April 27, 2008

O mundo é grande

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.

(Carlos Drummond de Andrade)

Monday, April 14, 2008

Exit Music - Brad Mehldau Trio



Poema para o Fim de Um Filme

No breu enquadrado dizem adeus
o amor, os cantos, os carros,
Passamos e adormeceremos.
Desperta estarei para ver todos
os que acenam do cais para mim
E eu lhes acenarei
Até que a morte nos separe.

Thursday, April 10, 2008

Coeur qui soupire n'a pas ce qu'il désire


É, é ele mesmo.

As Ninfas



Mas entrar por um momento no reino que me é destinado
por natureza e adequação, o feminino branco e rosado
Atender à graciosa sinuosidade, à reservada afetação
ao gesto nu e musical que perfuma o espaço
com véus e cores suaves, e vozes moduladas

Queria pisar com os pés finos na relva fresca
do eterno desapego e dos sorrisos infantis
levemente tocado por uma divina sensualidade altiva
e livre, cantando os poemas mais arredios e colhendo flores
mal falando, apenas para libertar a verdade
de nossos corpos com canções inauditas.

Como as dançarinas de art-nouveau
e a bela Salomé, apaixonada e lancinante
ter razão sem precisar inclinar-me à vulgar
e masculina argumentação, ao palavrório
sem recorrer à Lei, à Lógica adolescente
à Ordem dos Sacerdotes descrentes, os homens
e seu eterno reino de sons bárbaros e gargalhadas atrozes
e negociatas e certezas de segunda classe
Um mundo emprestado de nós mesmos.

A fonte é fina e fria
O regato nos espera
As flores recurvam-se ao vento
Os sorrisos silenciosos no vento
O pão da eternidade sob
as cores e sabores das teias
de arte, volúpia e oração.

Wednesday, April 02, 2008

Musgo

O líquen cresce no tempo
Tempo que adormeceu nas pedras no alto da montanha
que olha para baixo anuviada, cheia de tédio
como se houvesse bebido Martini seco
O tempo é uma harmonia fundamental que se soergue
somente vez por outra quando as aves despertam
e as cigarras anunciam a vinda do calor sobre o rio.
O tempo não tem ganas
O tempo lê, compõe a canta.
As pedras em seus leitos amanhecem e morrem
O silêncio das gargantas e dos córregos dentro das grutas
As flores inevitáveis pelos caminhos
Aos sobreviventes, à sinfonia dos entes nos bosques úmidos
que espalham seus ramos e as praias que cedem femininas
às súplicas do eterno oceano
Uma cantiga de ninar.


Aristocracia legítima a dos salgueiros, ipês, mangueiras
a dos insetos, dos seres brutos que nascem e soçobram
na antiga morada, o deserto tomado por reis
famintos, reis inocentes
O deserto, a terra inteira de flores, amarílis, rosas, petúnias
e malignas orquídeas, bruxas inertes, e seus príncipes
acorrentados, os beija-flores furta-cor.
O gato se deita onde é barão
O pássaro perscruta onde é delfim
O rio avança onde é soberano.

A Visão

Como um gato
deitei-me e olhei para a escada
No nível da terra
é que se enxerga o mundo
o mundaréu como ele é
Como uma ave migratória
flutuei bem alto, e alto
nos céus das andorinhas doidas
é que enxerguei o mundaréu de doidos
e fogo, água e fumaça


De pé no chão não se enxerga
coisa alguma que valha pois
a vista fica embaçada pela névoa suja


Como um gato espreitei
a verde grama tão perfumada
Como abutre contemplei
de cima os cemitérios humanos


Só os sons guardei comigo
nas alturas fechei os sons da terra
no meu coração que entorna saudade


Grudada ao chão pus o ouvido
no seio do mundo e auscultei os trabalhos
no ventre do esquecimento.