Thursday, October 30, 2008
Matadouro
P. Picasso, "Minotauro"
Ando displicente.
Estas minhas cantigas estão decadentes
mas dos teus braços tomo o manto
do torpor e quedo entre orquídeas.
Anjos malignos sopraram em meus ouvidos
uma solução bruta mas conveniente:
com esta caneta te imolo sem compaixão
despejo tua beleza repartida a faca
em meu poema, e te ofereço a
deuses exigentes.
No altar destes versos te sacrifico
e rezo sobre o sonho dos teus olhos escuros.
Monday, October 27, 2008
Batalha de Escorpiões
"Orchid", de R. Mapplethorpe
Já não sei o que fazer
com este pavor
Não sei o que fazer
deste calor
Onde pôr
estas flores vermelhas
Não sei como ouvir
essa música de bruxas
que desperta leões
na madrugada.
E o demônio que dança
às gargalhadas
Que fazer deste estupor?
Como calar estes tons
que perpetram asas escuras
nos lençóis que balançam
nos varais virgens?
O anjo me tortura
dia e noite
com olhos escurecidos
de taninos e aladas
foices de prata.
O anjo me retém
sob o escudo sangrento
de seu terror
de rosas e cantos.
Está declarada
a batalha no deserto
e em alto-mar.
Estou a postos.
Friday, October 24, 2008
Sphinx
"A Virgem", Gustav Klimt
Para FP
Houve a noite da esfinge.
A esfinge reina soberana
e meu coração impaciente
voa aflito com aflições
de pombo desértico
Eu, criança, diante da porta
Do corpo da esfinge soberana.
Na boca da esfinge
O lagarto colheu dardos
De doces intumescências
No repentino verão
De noturnas florescências.
A esfinge sorri na areia.
Tempestades estrangeiras
Trouxeram os olores
Transparentes ervas úmidas
Com a bela silhueta escura
Da esfinge marinha.
Na noite da esfinge
Eu, nômade, bebi de anis
Em cálice tomado de dores
Risonhas e chuvas frescas.
A esfinge, bela na noite,
Reina soberana na areia.
O instrumento do demônio
Canta na garganta de cerejas amargas.
A esfinge reina soberana.
Para FP
Houve a noite da esfinge.
A esfinge reina soberana
e meu coração impaciente
voa aflito com aflições
de pombo desértico
Eu, criança, diante da porta
Do corpo da esfinge soberana.
Na boca da esfinge
O lagarto colheu dardos
De doces intumescências
No repentino verão
De noturnas florescências.
A esfinge sorri na areia.
Tempestades estrangeiras
Trouxeram os olores
Transparentes ervas úmidas
Com a bela silhueta escura
Da esfinge marinha.
Na noite da esfinge
Eu, nômade, bebi de anis
Em cálice tomado de dores
Risonhas e chuvas frescas.
A esfinge, bela na noite,
Reina soberana na areia.
O instrumento do demônio
Canta na garganta de cerejas amargas.
A esfinge reina soberana.
Sunday, October 19, 2008
Ars Erotica
"Ophelia", de Millais
“Amo a floresta. Ruim é a vida nas cidades: há ali demasiados libidinosos.”
Nietzsche
I.Ciganos e suas rabecas
O amor expande violeta
a íris da consciência.
É o que dizem.
Cada um é só
com o corpo embargado de espírito.
Cada um é sozinho.
A imensa ânsia
para o que não habita em si
O eterno andarilho
Adormeço sob As Três Marias
Adormeço um pouco em ti.
II.Ressona a Grande Explosão
Sorrio de graça e em minha taça
descansa a roxa solidão de meu amor
Acredito na música que ressoa ao fundo
do mundo e desta poeira
Acredito na sinfonia que reverbera
por trás da dança das varejeiras
Quando acabar-se o mundo
Após uma explosão fraternal
Ranger de gritos apavorados
será possível ouvir gigante
um concerto para piano
mozartiano
III.Lascívia
Canto com as cigarras
Canto um pouco em ti.
Acariciar asas violetas se possível;
cantar o que não está perto.
Na brisa gélida que treme as últimas folhas
das mortas árvores de abril
dança uma valsa a bela Incerteza
Nenhuma flor marca meu jazigo
Meu espectro é dignamente pobre, e vive exonerado
exilado nos píncaros brancos
do desejo que lhe estica a alma
como a um manto de linho antigo.
O amor é uma libélula infernal
Asas; e que deixam rastros na água.
IV.Divertimento
Os deuses banham-se
em jardins de begônias
e, vê, as serpentes dependuradas
nas amoreiras emaranhadas
traçam na tepidez da primavera
mórbidas grades de galhos
cálidas ao olhar das feras
os deuses banham-se
em jardins de begônias
Num compasso crescendo
águas azuis no momento
em que um satírico vento
revolve as lupercais
dos teus olhos abissais.
Preenchem o escuro Vale das Máquinas
patéticas eletrificadas, gás, carvão e hulha
sublime kyrie disperso na poeira
flutuante espaço tenso em ostinato
doura os céus dos acontecimentos
um minuto antes de um divertimento
que ressoa para teus verdes sorrisos na rua
os quais contêm todos os sorrisos da lua
“Amo a floresta. Ruim é a vida nas cidades: há ali demasiados libidinosos.”
Nietzsche
I.Ciganos e suas rabecas
O amor expande violeta
a íris da consciência.
É o que dizem.
Cada um é só
com o corpo embargado de espírito.
Cada um é sozinho.
A imensa ânsia
para o que não habita em si
O eterno andarilho
Adormeço sob As Três Marias
Adormeço um pouco em ti.
II.Ressona a Grande Explosão
Sorrio de graça e em minha taça
descansa a roxa solidão de meu amor
Acredito na música que ressoa ao fundo
do mundo e desta poeira
Acredito na sinfonia que reverbera
por trás da dança das varejeiras
Quando acabar-se o mundo
Após uma explosão fraternal
Ranger de gritos apavorados
será possível ouvir gigante
um concerto para piano
mozartiano
III.Lascívia
Canto com as cigarras
Canto um pouco em ti.
Acariciar asas violetas se possível;
cantar o que não está perto.
Na brisa gélida que treme as últimas folhas
das mortas árvores de abril
dança uma valsa a bela Incerteza
Nenhuma flor marca meu jazigo
Meu espectro é dignamente pobre, e vive exonerado
exilado nos píncaros brancos
do desejo que lhe estica a alma
como a um manto de linho antigo.
O amor é uma libélula infernal
Asas; e que deixam rastros na água.
IV.Divertimento
Os deuses banham-se
em jardins de begônias
e, vê, as serpentes dependuradas
nas amoreiras emaranhadas
traçam na tepidez da primavera
mórbidas grades de galhos
cálidas ao olhar das feras
os deuses banham-se
em jardins de begônias
Num compasso crescendo
águas azuis no momento
em que um satírico vento
revolve as lupercais
dos teus olhos abissais.
Preenchem o escuro Vale das Máquinas
patéticas eletrificadas, gás, carvão e hulha
sublime kyrie disperso na poeira
flutuante espaço tenso em ostinato
doura os céus dos acontecimentos
um minuto antes de um divertimento
que ressoa para teus verdes sorrisos na rua
os quais contêm todos os sorrisos da lua
Tuesday, October 14, 2008
Poema do Escuro
Cheguei a pensar que não iria mais te escrever poemas nem coisas afins belas.
Porque pensava-me velha, pensava-me finda no círculo da hora na barca que dança,
fechada numa decisão de guirlandas carnívoras, e bastava-me a escravidão
da idéia, da mesma frase, da mesma ofensa, da mesma nagação da liberdade
mas agora na noite a erva e lua, a estrela a água se fazem senhoras
e nenhuma circunstância roubará teu corpo e a amálgama da essência de você.
Porque em nenhures estarei e não sinto a solidão, pois moro com a Lua
e durmo com o deus mais altivo e tenso de todos, o Sol
e o céu inteiro é minha casa, e você, música, minha porteira
E tua boca, topázio marinho no portão de entrada para o mundo
e neles habito... habito nos ares com as gaivotas e falcões
intimamente em grandes envergaduras.
Busco a estrela, e bebo a alvorada, e lá está, esse homem que se senta esguio
na última laje, no ducentésimo galho de jasmineiras -- alías orquídeas
Que te adoro rico em cores, que te quero desenhado em rosas e vermelhos e azuis
que te quero selvagem da masculinidade típica dos céus de outubro
e das peças magníficas para sopros e metal... com entradas particulares para as cordas.
Homem, nascemos para isso, para isso crescemos, para o cântico... alvoradas
luzes turvas da madrugada, e vinhos escuros, tons anis, desejos fulvos.
E caio num ninho de suaves lilases, que são lembranças de lábios e noites unidas em mi bemol.
Friday, October 10, 2008
Sunday, October 05, 2008
Gosto de vinho.
Saturday, October 04, 2008
Gosto de... continuação.
Friday, October 03, 2008
Uma daquelas listas de coisas de que gostamos.
Ao contrário do que muitos pensarão, não foi inspirada em Amélie Poulain, mas sim num blog português muito belo que visitei recentemente (se vocês clicarem no título da postagem, que está em highlight, irão parar nesse dito endereço lusitano). Relembrei com ele um velho hábito de infância e adolescência, o de listar coisas de que gosto. Pode ser uma tentativa de poesia. Uma nova forma, a poesia-lista? Calma, é só uma piada.
Só para começar, as coisas mais óbvias. Muitas são clichês, mas fazer o quê? É que nem sexo, universalmente apreciado. Clichê dos bons.
Prometo escrever coisas mais sutis da próxima vez... sim, essa listinha continua.
Gosto de:
1. A letra csi do alfabeto grego. Tenho numa postagem antiga deste blog uma série de fotos de csis, para quem não lembra ou não sabe qual é. Aliás, especializei-me em desenhá-la. Merecia já um vale-doutorado só por ter aprendido a escrever direito, quando nos institutos de matemática há essa legião de professores e bons matemáticos quase que totalmente incapazes de escrevê-la, mesmo sendo tão requisitada.
2. Taças de vinho atrás de velas acesas, com bojo largo, de forma que possam refletir sutilmente, na sua convexidade elegante, a luz da chama.
3. Gatos.
4. Cheiro de livros bem novos e de livros bem velhos.
5. Tardes em que o vento é intenso porque choverá em breve.
6. Pedras redondas submersas em água cristalina.
7. A hora 11:11.
8. A poesia de Gabriela Mistral.
9. O cheiro de pão quente e a voz da mãe cantando de manhã enquanto faz café.
10. A sensação de pés descalços sobre a grama molhada de manhã cedo.
11. Ficar silenciosa numa mesa em que todas as pessoas conversam e fazem balbúrdia alegremente, deixando fluir através do corpo, como se não estivesse ali, como se já tivesse morrido, a enervação dos pensamentos e o calor da vida humana.
12. A cor lilás.
13. Árvores jasmineiras quando chove.
14. Caminhos, estradas, principalmente de madrugada. Olhar para o céu de dentro da janela do carro, ônibus, o que for, e ver o escuro salpicado da Via Láctea cedendo gentilmente a vez para uma ainda ingênua luz debutante.
15. Beijar a boca daquele por quem se está apaixonada tendo bebido água, e ele, vinho.
16. Lençóis e véus.
17. Mãos de pessoas idosas.
18. O espaço vazio e silencioso entre as estantes de alguma grande e rica biblioteca. fechar os olhos e respirar nesse momento, parada entre os livros.
19. Barcos.
20. Janelas.
Só para começar, as coisas mais óbvias. Muitas são clichês, mas fazer o quê? É que nem sexo, universalmente apreciado. Clichê dos bons.
Prometo escrever coisas mais sutis da próxima vez... sim, essa listinha continua.
Gosto de:
1. A letra csi do alfabeto grego. Tenho numa postagem antiga deste blog uma série de fotos de csis, para quem não lembra ou não sabe qual é. Aliás, especializei-me em desenhá-la. Merecia já um vale-doutorado só por ter aprendido a escrever direito, quando nos institutos de matemática há essa legião de professores e bons matemáticos quase que totalmente incapazes de escrevê-la, mesmo sendo tão requisitada.
2. Taças de vinho atrás de velas acesas, com bojo largo, de forma que possam refletir sutilmente, na sua convexidade elegante, a luz da chama.
3. Gatos.
4. Cheiro de livros bem novos e de livros bem velhos.
5. Tardes em que o vento é intenso porque choverá em breve.
6. Pedras redondas submersas em água cristalina.
7. A hora 11:11.
8. A poesia de Gabriela Mistral.
9. O cheiro de pão quente e a voz da mãe cantando de manhã enquanto faz café.
10. A sensação de pés descalços sobre a grama molhada de manhã cedo.
11. Ficar silenciosa numa mesa em que todas as pessoas conversam e fazem balbúrdia alegremente, deixando fluir através do corpo, como se não estivesse ali, como se já tivesse morrido, a enervação dos pensamentos e o calor da vida humana.
12. A cor lilás.
13. Árvores jasmineiras quando chove.
14. Caminhos, estradas, principalmente de madrugada. Olhar para o céu de dentro da janela do carro, ônibus, o que for, e ver o escuro salpicado da Via Láctea cedendo gentilmente a vez para uma ainda ingênua luz debutante.
15. Beijar a boca daquele por quem se está apaixonada tendo bebido água, e ele, vinho.
16. Lençóis e véus.
17. Mãos de pessoas idosas.
18. O espaço vazio e silencioso entre as estantes de alguma grande e rica biblioteca. fechar os olhos e respirar nesse momento, parada entre os livros.
19. Barcos.
20. Janelas.
Wednesday, October 01, 2008
The Lark Ascending - Again
"He rises and begins to round,
He drops the silver chain of sound,
Of many links without a break,
In chirrup, whistle, slur and shake.
For singing 'til his heaven fills,
'Tis love of earth that he instils,
And ever winging up and up,
Our valley is his golden cup,
And he the wine which overflows
To lift us with him as he goes
'Til lost on his aerial rings
In light, and then the fancy sings."
Excerto do poema de George Meredith que V. Williams ressaltou no início da partitura da belíssima peça homônima, sem o "again".
DICA: ouvir a gravação de Nigel Kennedy com a Royal Philarmonic Orchestra, sob regência de Simon Rattle.
He drops the silver chain of sound,
Of many links without a break,
In chirrup, whistle, slur and shake.
For singing 'til his heaven fills,
'Tis love of earth that he instils,
And ever winging up and up,
Our valley is his golden cup,
And he the wine which overflows
To lift us with him as he goes
'Til lost on his aerial rings
In light, and then the fancy sings."
Excerto do poema de George Meredith que V. Williams ressaltou no início da partitura da belíssima peça homônima, sem o "again".
DICA: ouvir a gravação de Nigel Kennedy com a Royal Philarmonic Orchestra, sob regência de Simon Rattle.
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