Monday, September 06, 2010
Sacra
Há anos não vejo o mundo exterior.
Fora deste salão contam histórias e lavam as casas.
Não atrevo-me a expôr minha cabeça à foice do sol.
As raposas andam à caça de aves pequenas nos ninhos.
Falcões foram tomados por corvos, pois na cidade
não restam mais do que corpos inertes e espectros
que contam histórias, que bebem anis e lavam casas.
Se o arrependimento é um carrasco,
vi sua carantonha por baixo do capuz.
Pois assisti às horríveis orgias dos deuses,
vi deusas nuas e descobri que eram cadáveres podres.
Nunca foram belas nem há titãs protetores.
Apenas bêbados em templos comendo pernis
e bebendo sangue de perdizes inocentes.
Não mais permitirei que devassem a sala de orações.
Não mais permitirei que adentrem os banhos dos infantes.
Não deixarei escapar mais uma palavra
para que os inimigos não adivinhem nossos pensamentos e ações.
Não nos trairemos novamente.
Não daremos as mãos aos homens imundos
que abrem suas bocarras em bares e perseguem
com olhares de abutres as mulheres.
Não mais conhecerão nossa política, nossos livros,
nossas canções, nossa bebida e nossas fogueiras de festa.
As raposas chamuscadas conhecerão apenas as costas de nossos mantos
e os véus que guardam orações, escuros, negros por falsa fumaça,
esta que disfarçará as cristalinas lágrimas de pura alegria de nossas fontes antigas.
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