Monday, July 22, 2013
O vento frio
O vento traz cheiros da chuva,
o vento traz amor, o vento traz seus olhos escuros,
e vento traz a ausência.
Como um mordomo sarcástico,
refinado torturador nas horas vagas,
o vento traz, silencioso, a lembrança da distância.
E o mesmo vento traz o perfume do futuro de amanhã,
pois nos encontraremos novamente encarcerados um no outro,
na torre abastada de vidro e madeira,
no quarto cercado de verde escuro, cercado pelo vento,
e pelo som de um pequeno rio.
A tensão cresce na alma e no desejo do corpo,
e somente o vinho pode anestesiar o espírito,
enfraquecer a mente infame, ilógica,
apavorante, tomada das chamas violentas do coração.
Lá longe vão cavalos de prata,
lá longe está a grama cobrindo jardins, e túmulos.
A calmaria se espreguiça sobre o campo de crianças mortas
e essa lua malfazeja que nos observa.
Mas eis que vem meu amor passear na nuvem dos meus versos.
O vento traz a música da sua boca,
e traz o calor perfumado de sua nuca de homem altivo,
o suor do guerreiro, a capa do poeta, o livro nas mãos de jovem cavaleiro.
O vento traz o silêncio do seu coração lúcido de sofrimentos,
e traz a cantiga de nossos futuros cantos de delícia.
E assim afloramos bêbados,
pálidos de fadiga, embaraçados de tanta vida,
perdidos em nosso imenso terror de amor.
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