Sunday, August 21, 2016

Vento, domingo



Amanheceu um dia de prata.
A chuva cantou, então se ausentou para descansar.
O sol desceu dentre as nuvens,
elegante, tímido, sonhador
e tingiu os prédios de uma luz envelhecida.

Manhã que debutou como se já fosse crepúsculo,
poesia que marejou meus olhos,
uma noite de verão beijou um dia de inverno.

E as nuvens roubaram, grávidas de água e vento,
a prata quase dourada da luz nos muros,
luz que se torna vítrea e azulada.
Uma tarde que é promessa de uma viagem, um amor,
um passado que faz as pazes com o futuro
cheio de folhas esvoaçantes, livros, caminhos, céus multicolores.

Delicadas são as forças do devir que agem no vento
Trôpegas como crianças são as palavras que a eternidade canta.

O mar aqui ressoa, oração, espelho, calmaria,
enquanto a ventania traz uma hora cheia de rebeliões do tempo.

Entardece e converge o dia para o abraço silencioso,
e, como uma harmônica de vidro,
um deus sentado nas pedras desenha um mistério.