Wednesday, August 26, 2009

O Ataque das Vespas


Imagem de "V for Vendetta", hq criada por Alan Moore


Nuvens de poeira
em alto mar
e a brisa do jardim
torna-se lixo nuclear.

Cada dia é uma nova tormenta
e na terra de ninguém caem os traídos
atacados pelo enxame
de vespas malditas.

Sozinhas, não podem ferir.
As vespas só vêm em imensos bandos
e com milhares de pequenos ferrões
injetam todo o horror em nossas veias.

Com minha arrogância defendo-me.
Com minha impassividade ataco.
Na inexorável superioridade
ainda podem perecer barões.

Assim porto-me como guerreira
e de espada em punho, arco e flecha,
pistolas e golpes calculados
alerta todo o tempo, posto-me

à soleira do tempo, à beira da vida
na estalagem ignorada
à sombra do triste arbusto e na torre negra
velo meus tesouros sob o ataque das vespas.

Monday, August 17, 2009

Norwegian Scent


foto: Øyvind Heen



Norwegian scent
Norwegian chant
Ice and flowers
bloomed in Norway
take care of my love
you carry with you.

Norwegian bird
Norwegian chant
Bless my beloved one
you carry in your heart

Norwegian wind
Norwegian chant
Caress the hair of
my beloved one.
Bring its scent to me.

Sunday, August 16, 2009

Xilema, clareira, orelhas-de-pau





Sou mesmo um vegetal

uma samambaia espectral

derramando-se na amurada


Até o reino mineral

enredo-me e nado dissolvida

arabesco pulsante em água

que se desfaz em fria neblina

com o vento azul que dança na colina


A carne animal de sangue

traz-me arrepio adiposo

como um dente apodrecido

que se vê no escuro abismo


A dança de moluscos vermelhos

e o calor embaçado no espelho

trazem-me aos ouvidos cansados

o temor ao que está apartado


Sou mesmo uma gimnosperma

uma trepadeira nos troncos escuros

sob a sombra dos bambuzais

sacerdotisa de verdes catedrais.

Sunday, August 09, 2009

Alpes


A. Grothendieck



Não perco mais tempo
desfolhando os livros sagrados.
Os ímpios e a prole de ratos
que se acumula no mercado
não verão os versos, nem compreenderão.
Suas pequenezas cheias de grandiloquência
as impedem de sentir seus fedores.

Não perco mais tempo falando com o nada
e debatendo com as sombras e as formigas;
é infantil superestimar os ratos
e exibe falta de respeito ao Rito
o imiscuir-se entre jovens
para conversar sobre O Conhecido
- a eles tudo é estandarte de nobreza
tudo é preciosidade única, como rubis
do tamanho de maçãs, que apenas eles possuem.

Esquecer tudo isso, não perder tempo
exibindo aos pequenos seus tesouros
e abrindo os casulos do jardim, maculando borboletas bebês,
aos ladrões e usurpadores de poder.

Tudo o que querem é a adaga
para golpear, e obter as jóias e o Livro da Lei
que negam existir apenas por sede dele.