Sunday, August 16, 2009

Xilema, clareira, orelhas-de-pau





Sou mesmo um vegetal

uma samambaia espectral

derramando-se na amurada


Até o reino mineral

enredo-me e nado dissolvida

arabesco pulsante em água

que se desfaz em fria neblina

com o vento azul que dança na colina


A carne animal de sangue

traz-me arrepio adiposo

como um dente apodrecido

que se vê no escuro abismo


A dança de moluscos vermelhos

e o calor embaçado no espelho

trazem-me aos ouvidos cansados

o temor ao que está apartado


Sou mesmo uma gimnosperma

uma trepadeira nos troncos escuros

sob a sombra dos bambuzais

sacerdotisa de verdes catedrais.

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