Thursday, September 24, 2009

Eu sei quem ela é



Um anjo caído.

Um capitão na marina em tormenta.

Um gato
no muro
de madrugada
observando.

Saturday, September 05, 2009

Sou um demônio




Encontrei num velho livro
um punhal de bronze escondido
e uma carta que relata
minha identidade antiga.

Deixo que o vento me leve
e fujo constante rumo ao norte.
Caminho na cidade como na relva.
Carrego uma pequena arma apenas.


Por isso sentia dor.


Havia me esquecido de quem eu era.
Monstros e canalhas deram-me de beber
uma poção envenenada... e esqueci-me.
Em oblívio, trabalhei e amei falsos deuses.


Sou uma caminhante com asas partidas.
Rastros de pedras dolorosas e flores brancas abandono
pequenas e virgens, nas trilhas, e canções longas
que duram dias, guardo na memória antiga.


Movimentos de luta e vôos desconhecidos
e símbolos ocultos que ninguém mais vê na terra.
Calças frouxas velhas e mantas desbotadas,
um chapéu, meu punhal e minha flauta.


Caí no rio e molhei minha armadura.
Desfaleci de fome e fadiga, e camponeses me acolheram.
Andei muito até chegar a esta vila
e agora vejo neste livro que posso finalmente recordar.


Por isso sentia dor.
Por isso chorava e escrevia poemas incompreensíveis.
Tocava lamentos de infâncias massacradas pelos monstros
e me lamentava de tempos perdidos que não conheci.


Ouço os conselhos da brisa de chuva,
saio com a luz da tarde semeando magnólias.
Levo este chapéu, um punhal e minha flauta
no eterno presente, a imortalidade do pássaro no tempo finito.