Saturday, September 05, 2009

Sou um demônio




Encontrei num velho livro
um punhal de bronze escondido
e uma carta que relata
minha identidade antiga.

Deixo que o vento me leve
e fujo constante rumo ao norte.
Caminho na cidade como na relva.
Carrego uma pequena arma apenas.


Por isso sentia dor.


Havia me esquecido de quem eu era.
Monstros e canalhas deram-me de beber
uma poção envenenada... e esqueci-me.
Em oblívio, trabalhei e amei falsos deuses.


Sou uma caminhante com asas partidas.
Rastros de pedras dolorosas e flores brancas abandono
pequenas e virgens, nas trilhas, e canções longas
que duram dias, guardo na memória antiga.


Movimentos de luta e vôos desconhecidos
e símbolos ocultos que ninguém mais vê na terra.
Calças frouxas velhas e mantas desbotadas,
um chapéu, meu punhal e minha flauta.


Caí no rio e molhei minha armadura.
Desfaleci de fome e fadiga, e camponeses me acolheram.
Andei muito até chegar a esta vila
e agora vejo neste livro que posso finalmente recordar.


Por isso sentia dor.
Por isso chorava e escrevia poemas incompreensíveis.
Tocava lamentos de infâncias massacradas pelos monstros
e me lamentava de tempos perdidos que não conheci.


Ouço os conselhos da brisa de chuva,
saio com a luz da tarde semeando magnólias.
Levo este chapéu, um punhal e minha flauta
no eterno presente, a imortalidade do pássaro no tempo finito.

1 comment:

Dom Diego said...

Noruega, torres negras, adagas de bronze e magnólias! Voltamos ao Peloponeso com uma cruz templária no peito. Confesso que suas imagens são reconfortantes. Running away!

Parabéns pela nova fase.