Saturday, December 06, 2014

Lucidez



Há mil dias enclausurada num cúmulo-nimbo
Há mil dias acreditava ser a nuvem o calabouço de um rico navio
onde o amor reinava incólume.
Naquele reino, mesmo claustrofóbico,
eu deveria viver e morrer.

Vi harpias e lutei contra medusas insones.
Adorei anões de gesso como se fossem Adônis de mármore.
Em meus olhos, um filme de fadiga preta e branca,
e não havia espelhos para ver minha própria face dourada.

Num gesto desesperado cortei a escura fumaça
Num estertor acordei nua na praia e o sol brilhava.
A Terra inteira canta num clamor de êxtase
E sem drama, sem lágrimas, sem orações,
monges se transformam em fadas.

Canto a música do fim de mil dias perdidos.

2 comments:

Wagner Sabbado da Rosa said...

Me fez pensar na Odysseia de Ulisses. Monges que se transformam em fadas, hehehe isso me traz uma imagem de monges gordinhos com asas de borboletas, hehehe.
Muito legal o poema.

Cecil said...

Obrigada, Wagner. Desculpe não ter visto o outro comentário que postou há mais ou menos um mês atrás, fazia tempo que eu mesma não publicava nada. Mas acho que é a sensação mesmo, terminei um período da minha vida que posso dizer que foi uma odisséia dura mesmo... e volto para Ítaca diferente, mas ao mesmo tempo mais eu mesma do que nunca. :)