Friday, November 11, 2016

Para Leonard



Faz um grande vazio no céu da minha cabeça
Mas não daqueles de noites sem estrelas
e sim um céu azul, gelado, banhado de um sol
de depois da chuva, em manhã de outono.

Uma despedida que não é de lágrimas
nem de adeuses prolongados, cansativos, doloridos.
É uma despedida que é riacho floresta abaixo,
gota de sereno adentrando o mar imenso,
poeta e guitarra decolando para um novo continente.

É a lua que, generosa e elegante, aceita a inexorável luz  dourada do dia.
É vento que traz e leva um perfume de jasmim no meio da rua.

Tuas palavras estão nos nossos ouvidos,
e nas mãozinhas das crianças, e nos ensaios da intelligentsia,
e nas velas que os monges acenderam para você.

Até mais, Leonard.
Em breve a noite chega, e a luz graciosamente aceita a escuridão.

Sunday, August 21, 2016

Vento, domingo



Amanheceu um dia de prata.
A chuva cantou, então se ausentou para descansar.
O sol desceu dentre as nuvens,
elegante, tímido, sonhador
e tingiu os prédios de uma luz envelhecida.

Manhã que debutou como se já fosse crepúsculo,
poesia que marejou meus olhos,
uma noite de verão beijou um dia de inverno.

E as nuvens roubaram, grávidas de água e vento,
a prata quase dourada da luz nos muros,
luz que se torna vítrea e azulada.
Uma tarde que é promessa de uma viagem, um amor,
um passado que faz as pazes com o futuro
cheio de folhas esvoaçantes, livros, caminhos, céus multicolores.

Delicadas são as forças do devir que agem no vento
Trôpegas como crianças são as palavras que a eternidade canta.

O mar aqui ressoa, oração, espelho, calmaria,
enquanto a ventania traz uma hora cheia de rebeliões do tempo.

Entardece e converge o dia para o abraço silencioso,
e, como uma harmônica de vidro,
um deus sentado nas pedras desenha um mistério.

Friday, May 13, 2016

Altocumulus




Que triste é o verão;
que triste é a canção efusiva e repetitiva de um céu azul
e a extenuante umidade calorenta

Quão doloroso é o olhar sobre uma estrada
perfeitamente pavimentada,
em que há mortes durante a madrugada;
para uma lagoa calma azulada
que, ao entardecer, solta fogos-fátuos
e outros elementos podres e silenciosos.

A totalidade da cor e a falsa permanência
são veneno para a mente,
são o sufoco da alma escrava dos sorrisos e oprimida pelos afetos
são a anestesia para um coração já embolorado
e embalado em açúcar de amores, requisitos e bom-dias.

O céu sempre azul - efusividade autoritária
O calor pleno e o ar imutável - a angústia de Prometeus
eternamente bicado pela ave de rapina.

Chegam as hostes de nuvens - chuva
vento e revolução
água no rosto, cabelos ao vento
O tempo se liberta,
o corpo se torna fogo e ar
-Respiro! Algo vai acontecer

Algo acontecerá, anuncia o Sacerdote Altocumulus,
pois tive um sonho que trouxe presságios,
algo acontecerá.