Tuesday, August 21, 2007

Conjectura bastarda

Isso lhe dói
ao olhar no espelho
a plena constatação
da idiotice de sair
da própria natureza
à caça de ilusão.

Seria ela tão plana?,
pergunta-se, e não sei
se a resposta existe
pois não é claro
que a pergunta esteja
bem formulada.
Os problemas em aberto
são com freqüência
apenas questões
propostas por crianças
matematicamente
mal alfabetizadas.

Se as roupas não fossem
o que outros débeis gostos houvessem decidido
sua natureza estaria satisfeita
com longos andrajos
de rainha destronada
pois parece-me que é isto
que sua natureza determina.
Daqui em diante não mais
andará à cata dos sorrisos
e aplausos da pobre e ignara multidão.

Antes ser rainha nua no deserto
tórridas areias neves febris
que ser objeto de elucubrações mal formuladas
e assunto mal compreendido mal comentado
mal amado malquisto, mas elogiado por autistas
retardadas vis desatentas mentes lentas
famintos, ou antes gulosos, corações
sensuais e temíveis mesmo nos profundos
corredores da Academia – prefira
a indiferença gigante da silenciosa montanha
dos claros e frios lagos, dos quentes vulcões
dos altos mares – deuses, deuses esbeltos
deuses fatais: tenham piedade de vossa humilde
devota, pássaro perdido na minúscula sala
na fumegante cozinha dos risonhos e anuviados.

Seus sapatos são de folhas
Seu vestido é de sonatas.

Love love love

choro inteira
sofro por toda a humanidade
transparente, um copo d'água
transbordo e na chuva ninguém vê
a transparência sufocada de amor
a película túrgida e límpida de dor

sofro sem esforço
gratuita e livremente
com a fronte coroada de estrelas tristonhas
como uma rainha derrotada

uma flor azul desabrocho no frio
oferecendo aos transeuntes
e ao vento minha florescência dolorida
meu desabrochar de lágrimas fáceis
como oferece ao mundo graciosamente
a roseira suas ainda macias pétalas moribundas
e a paineira no outono suas folhas ressequidas

ofereço a vocês todos
minha tristeza em taças
e minha paixão insólita
ofereço meu pranto
como uma espada
que o vencido
estende ao vencedor
leve menear de cabeça
e um sorriso de muitas eras
ofereço a todos
e adormeço possuída
amorosamente
por um desqualificado vinho.

Dança

só existe o amor
o amante já se desfez
só existe o caminhar
não o caminhante
só há o comer
e não o que come
só pode haver o movimento
mas não o rio em si

há apenas o cantar
não pode haver cantor
quando existe, somente a música
não o músico, atrás da luz
como o sol atrás de seu brilho
só existe a dança
não o dançarino

estes fatos
são evidentes
por si próprios
quem não pode ver?

só pode haver o amar
não existe alguém que ame
só pode har o estender-se
e não a mão que se entrega
só existe o correr
mas não pode existit um corredor

quem não vê estas coisas
ainda não entendeu
que só existem as ondas
o vento e o cair de chuvas
e movimento no mundo
não há aquilo que se move
por si mesmo

sou o beber essa taça
sou o sonhar com montanhas
sou o escrever e o chorar
sou o querer e o cantar
não há qualquer ator em cena

portanto ao descerem as cortinas
silêncio em meu funeral, saiam do teatro
graciosamente com a consciência
de nunca ninguém terem visto.

Tuesday, August 07, 2007

July

See the cold and loveless
that blackbird
on the very edge
of the highest branch
early in the winter
morning light?

Feel the cold, frozen skin
sweet handkerchief
on a fiery broken heart
beneath the cold
moonlit satin water
down the frozen lake
terrifying monsters
gladly swim awake

Hear the cold and high
the loveless wind
unmercifully blows the stones
off the wall of the hills
far in the lonely field
hidden in a dark green
valley of oaks and vineyards
there the blackbird
no singing, and the wind is blown

Notice the cold cold and fiery arms
cold eyes of crying hard
far music from cold mermaids
cold sea, bright morning light
like a blade cuts the long day.

Kaos poem - for scientists

Kaos
Wir werden wissen. – David Hilbert

See? This foggy mess
dances around my neck
all the sounds from the wood
driving me mad
all these green and silver lights
silently making me blind

as a scientist
I'm supposed to keep track
of the monsters, humanize the ghosts
civilize into ideas
the wildest scents, the scary mermaid chants
into a theory, on the score

there is no survival
in the middle of hysterical flowers
among the colorful birds
in the smoke of herbal cigarettes
the freedom of wine and night
in the deep madness of love

It is a choice given
by terrible but compassionate gods
living above the misty eternity:
being eternal with the oceans
or calm peasants plowing
taming the lions, but not attached
to these small understandings.

Gracefully writing in the sand
but surrendering our books
to the white foam of waves.

Singing,
but playing as dolphins.
Princes in the monstrous
kingdom of blue.