Friday, February 29, 2008
Poema do Entendimento
Para se fazer musicista
precisa-se de grande intimidade
com o silêncio, a vasta tundra
o morno campo à beira-rio
Para se compreender as formas
e comerciar com as profusões
é indispensável estarmos atentos
à envoltória de silêncio
que veste qual cetim todo o entendimento
Uma placenta de miríades perfumadas
Uma galáxia de curvas e fenômenos
Um coquetel nauseante de sons e partituras
Para serem maternalmente contidos
no seio da silenciosa atitude
que curva levemente a espinha dorsal
japonesa, fina e lúcida como estudos
com lápis e um piano na noite embargada de anis.
Sunday, February 24, 2008
Poema de Cecilia Meireles
CÂNTICOS - Canto XII
"Não fales as palavras dos homens.
Palavras com vida humana.
Que nascem, que crescem, que morrem.
Faze a tua palavra perfeita.
Dize somente coisas eternas.
Vive em todos os tempos
Pela tua voz.
Sê o que o ouvido nunca esquece.
Repete-te para sempre.
Em todos os corações.
em todos os mundos."
"Não fales as palavras dos homens.
Palavras com vida humana.
Que nascem, que crescem, que morrem.
Faze a tua palavra perfeita.
Dize somente coisas eternas.
Vive em todos os tempos
Pela tua voz.
Sê o que o ouvido nunca esquece.
Repete-te para sempre.
Em todos os corações.
em todos os mundos."
Sunday, February 17, 2008
O Balão Amarelo
Veio flutuando lindo
no ar rosado do verão cansado
veio da grande mansão ao lado
onde os ricos abrem seus vinhos
borbulhantes rosés frescos
de tanta maravilha de vida
cheios de luz liberada nas bolhinhas
veio um balão dourado
caindo do céu pálido
na tarde antiga veio
Veio como um dom perdido
Do excesso que engorda os ricos
Os tesouros e alegrias aprisionadas
na muralha da mansão, as alegrias
incham o corpo, infelicidades
Os pobres canonizam a canção
e o ar que preenche o balão
O desejo é um esqueleto
que dança vago na sombra da plenitude
Veio um balão amarelo queimado
por sobre o grande muro da mansão rosé
Veio chateado da vida, enfarado da alegria
Veio sem desejo, indiferente à morte
Veio e caiu no pátio vermelho
Não há criança negrinha para tocá-lo
Quanta infelicidade entediada
infla o balão cheio de gás etílico
no ar rosado do verão cansado
veio da grande mansão ao lado
onde os ricos abrem seus vinhos
borbulhantes rosés frescos
de tanta maravilha de vida
cheios de luz liberada nas bolhinhas
veio um balão dourado
caindo do céu pálido
na tarde antiga veio
Veio como um dom perdido
Do excesso que engorda os ricos
Os tesouros e alegrias aprisionadas
na muralha da mansão, as alegrias
incham o corpo, infelicidades
Os pobres canonizam a canção
e o ar que preenche o balão
O desejo é um esqueleto
que dança vago na sombra da plenitude
Veio um balão amarelo queimado
por sobre o grande muro da mansão rosé
Veio chateado da vida, enfarado da alegria
Veio sem desejo, indiferente à morte
Veio e caiu no pátio vermelho
Não há criança negrinha para tocá-lo
Quanta infelicidade entediada
infla o balão cheio de gás etílico
Friday, February 15, 2008
Vôo
Núcleo
Há a obscenidade no mundo
Que todos vêem, mas ninguém aponta
pois todos temem o Grande Desejo
O Grande Amor que destruirá todos os telhados
Ninguém grita à polícia, ninguém chama a Defesa Civil
para conter os braços da grande obscenidade
estrelada, escarlate, carnívora de almas pueris
A obscenidade tão inocente que deve-se esconder a face
diante dela, para que ela não se envergonhe e não core.
A obscenidade que deu à luz ao céu e canta inúmera.
Sunday, February 10, 2008
Poema para Chet
De uma série: Madrugada
IV
Não durmo.
Não lamento.
Estou só e vou morrer.
Estou nua a correr
na neve, na chuva
na lama, no breu.
Não durmo,
não vigio as entradas
entram insetos que gritam
entrevoam luzes de pássaros
que já morreram.
Também vêm com o vento
da janela generosa
flores e perfumes
e gemidos de amor
e cantigas de mães.
Não durmo
e não falo
pois há que ser religioso
com as coisas da madrugada.
Não durmo.
Não lamento.
Estou só e vou morrer.
Estou nua a correr
na neve, na chuva
na lama, no breu.
Não durmo,
não vigio as entradas
entram insetos que gritam
entrevoam luzes de pássaros
que já morreram.
Também vêm com o vento
da janela generosa
flores e perfumes
e gemidos de amor
e cantigas de mães.
Não durmo
e não falo
pois há que ser religioso
com as coisas da madrugada.
Thursday, February 07, 2008
Lou Salomé e Rilke
"Ouse, ouse... ouse tudo!!
Não tenha necessidade de nada!
Não tente adequar sua vida a modelos,
nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém.
Acredite: a vida lhe dará poucos presentes.
Se você quer uma vida, aprenda ... a roubá-la!
Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer.
Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso:
algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!!"
Lou Salomé
"Vem!
Vamos profanar os templos
Onde se venera o medo
Para esculpir em nós
O monumento do amor
E uma escada ao Paraíso
Vamos voar nos sonhos
E zombar dos terrores
E delirar no deleite
Da unidade"
Rainer Maria Rilke
Subscribe to:
Posts (Atom)