Friday, June 19, 2009

Maremoto



"O Triunfo da Morte", de Bruegel O Velho


Cantar é difícil depois do que nos fizeram.
Viver é como prender a respiração num mergulho em alto mar
com tempestade no meio da madrugada que naufragou um beleeiro.
Parece-me que o tempo está suspenso, mas ele na verdade se traveste
de monge pedófilo, esconde suas mãos sob a capa e traz um punhal.
O tempo nos vigia a todos, tomem cuidado.

E depois do naurágio ainda não estou satisfeita.
Espero pelo grande maremoto que vai destruir esses corais
de mau gosto, essa série de praias mal desenhadas
que vai trazer ao espaço ventos nascidos neste minuto
ares que vêm de outra dimensão, do lugar do devir
a morada da inocência cruel e da brutalidade recém-saida da inexistência.

Vejo que você se ri, e pensa que já sabe do que falo
Mas não sabe. Porque todos vocês só querem uma grande onda
que no fundo arrume a floresta no seu lugar e que lave os corpos tão lindos.
Tudo besteira do velho Platão, dos egos, das satisfações... não existe tal beneficência
o maremoto só pode matar a todos nós - e alguém sabe o que é a morte?
Patavinas. Sabem o que é a tortura e as fotos de mortos.

Cantar o espaço. Será melhor calar porque os monstros escutam
e o mar está cheio... em breve um grande cachalote nos engolirá.
OU cairemos num maelstrom, ou entraremos num ciclo de vento.
Ninguém sabe de fato do que estou a falar, e vocês se riem...

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