Sunday, April 03, 2011

Cântico MCXXV




Num espaço de água e ar
está a alma enclausurada.

Quando olho para a rua suja
vejo o tempo que se deitou nela
e esqueceu-se da morte.
Agora é tarde para recuperar-se
da velhice do próprio tempo.

Mas nesta mesma rua escura e triste
tenho a visita breve de um desconhecido.
O coração revolve-se dentro da poeira dos dias,
e lava-se da lama das noites em pântanos de pesadelo.

Eu que nunca soube dizer sim.
Eu, que nunca soube desfazer-me do medo e
do medo da tristeza, mesmo entre lírios e lilases.
Agora corro para estar na hora exata em que chegas
e olhar-te de soslaio a olhar-me como quem também teme.

Nem respiro, para que o momento não se vá.
Pois é sabido que o tempo é o fôlego
que inspiramos e que deixamos escapar.
O tempo futuro é o ar da tua boca que beijarei,
e o passado é o estertor do gozo que teremos
numa noite sem lua numa clareira abandonada pelo próprio Deus.

3 comments:

Lucia said...

engraçado que tava lendo algo nesse mesmo sentido.

André said...

meio dark, mas amar o amor
é limbo.

Cecil said...

Oi Phalus,
não se trata de amar o amor, o que está sendo dito é sobre amar fisicamente um homem de carne e osso.
Um abraço, e obrigada pela visita.