Saturday, June 18, 2011

Vocês, os larápios




Cuspiram em minha porta
e escarraram nas minhas pegadas.

Depois de sorrirem como policiais na esquina,
entraram em meus aposentos pela janela
e macularam meus lençóis e toalhas de mesa.

Surrupiaram meus livros e copiaram meus poemas,
roubaram minha capa de chuva.

Falaram mal de minha ascendência nas tabernas imundas
e caçoaram de minhas mãos finas e botas de salto.

Chacoalharam a jaula com meu gato dentro.
Puseram-no exposto ao frio à beira do rio.

Elevaram a voz para que minha voz não fosse ouvida,
tal como João Batista proferindo verdades sujas no poço escuro.

Ofenderam meus ancestrais e duvidaram de minha nobreza,
viraram-me as costas e, quando virei a minha, vieram à minha caça.

Vocês não são benvindos mais,
nunca nem em qualquer tempo futuro ou passado.
Meu desprezo é retroativo,
minha armadura é justa, cega e imbatível.

Nada há que possam fazer. Nenhum perdão aos ímpios,
vocês não são mais benvindos.

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