Monday, February 13, 2012
Suave mare magno
Na vitrola gira o disco de minha mãe.
À tarde gritos são abafados pela vida alheia.
No verão, quando as algas vermelhas
tornam o mar sanguinolento
e as águas-vivas devoram o próprio corpo
de tão densamento cruéis e
cheias de veneno desumano,
e aparecem como gelatinas ruins na areia,
sentar-se na praia é um ato de temor ao demônio.
A polícia trama mais um golpe letal
enquanto os gatunos adormecem na jogatina.
O uísque é vendido nos quiosques
e a brisa nunca foi tão opaca de restos mortais
de flores secas e insetos verdes,
espíritos de mortos em batalhas marinhas.
Acordamos nas pedras nus e distintos.
Não bebemos ontem, mas o mar tem gosto amargo.
Ainda assim, encaramos o mergulho como o último de nossas vidas
e as algas desaparecem por um momento.
Somos eternos e lívidos, mas livres.
O disco traz Ella Fitzgerald e é como um grande final.
A lua está presente mas não posso olhar para ela,
como uma Górgona refugiada mas ainda vil,
que observa o balneário suave ouvindo a música
de Nat King Cole entre taças de martini.
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2 comments:
Exótico, acho que essa palavra se enquadra na cena que apresentou ^^
E como sempre, amei!
Beijos Cecil :*
Obrigada, querida. Beijos!
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