Friday, December 25, 2009

O mais doloroso poema





Não há mais ninguém no bar
nem na varanda onde casais dançavam.

Todos foram tomar seu trago, seu banho,
e deslizar preguiçosa e espalhafatosamente
em sonhos de seda, de luxúrias não resolvidas,
de imagens borradas de tantos drinks.

Eu te amo.
E não há quem ouça, somente gatos nos muros
para testemunhar a falência dos imensos ideais
juvenis ao som de Chet Baker e flores brancas na janela.

Sou a criatura mais fascinante deste planeta
depois dos felinos e das libélulas.
E também imperceptível de tanta fineza.
A elegância em excesso faz a invisibilidade
transformar-se em grosseria.
Comecei a falar palavrões demais.

Eu te amo.
E só na madrugada posso imaginar
se seria certo ou errado te mandar este poema,
sem utilidade ou propósito claro,
porque não sei se te quero mais.
Mas o desejo continua... e minha ética se debate
para descobrir se o teu rosto
não substitui o de qualquer homem que servisse nesta noite.

Meu sonho se embrulhou de frio
num jornal antigo e se cobriu de fumaça de cigarro
dos pedestres que esperavam o ônibus no ponto.
Como um mendigo, maltrapilho e faminto,
após uma longa noite de delírios de febre solitária.

3 comments:

Lucia said...

lindo poema.

Ivan said...

Eu nunca entendo poemas. Por algum motivo, os teus eu entendo. Estranho isso.

Beijos, preciosa.

Ivan.

R. M. Peteffi said...

Cecília!

tenho pércebido uma mudança fundamental, de imagens, e forma de expressão...

teus poemas estão ficando um tanto mais acessíveis, mas sem perder a qualidade.
Essa é a crítica positiva de fim de ano...!

Feliz ano novo aê, e boa festa!