Thursday, February 04, 2010

Florbela




Todos me amam.. e no entanto nenhum indivíduo
me escreve poemas ou cartas, não me trazem as glórias da manhã.
Que espécie de adoração falsa e pequeno-burguesa.
Amam-me como a uma deusa, porque têm de amar,
inevitavelmente, não porque o querem. Mentirosos.

Que amores a admirações são estas que me separam
da doçura e do calor do lar e das fogueiras dos amigos sob a lua?
Que me postam em altares onde
sacrificaram cordeiros e restam frios restos de vela,
onde apenas a lua colhe as lágrimas agridoces
de quando me trazem água benta por padres devassos?

Que falsidades extremas, como quando vêem uma miragem
ou fantasma - incapazes de demonstrar real amor,
apenas medo e furor, como diante de um crepúsculo maligno.
Afastem-se de uma vez, suplico, deixem-me,
não toquem em minhas pétalas com estas ferramentas
cheias de cascas, cimento, lama e restos de comida.
Não se finjam de meus mecenas, de meus adoradores,
meus amigos e amantes, fora toda a gente infame.

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