Desejo ler o Livro da aba até a última página parda,
mesmo a ficha catalográfica e o índice remissivo.
Desejo me perder e reencontrar docemente em cada linha
e sílaba lancinante, em cada aliteração cheia de calor e fôlego,
em cada parágrafo alucinante.
Desejo submergir na leitura
destas histórias tristes,
das noites frias e sem sentido,
dos dias enfadonhos de papel e ar condicionado,
das ansiedades abafadas em jornais no ônibus,
dos sonhos esquecidos nas quinas,
das lágrimas escondidas nas ruas de trás,
do gozo furtivo no quarto escuro,
do calor e frio em dias extremos,
da fadiga de insônias,
da incerteza e da agonia,
da alegria infantil, da sanha do jogo,
do desejo implícito, da malícia displicente,
da inocência de cantoria solitária,
na madrugada e na chuva.
Lerei o Livro da tua existência
de carne de homem adulto e criança.
Lerei o livro de pensamentos,
de desenhos e frases retidas na garganta,
de frases escritas, de gritos de alegria,
de estertores, de celebrações,
lerei as páginas do teu coração e de nuvens.
Amarei cada página feita de flor
cada letra feita de rubor,
parágrafos que são a oração dos teus dias,
capítulos que são murmúrio e estertor .
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