Queria tornar-me frio de nuvens
Não o frio que olha através do cais triste para o horizonte
Não o frio do farol na ponta do rio contra o oceano
Mas sim o frio do frescor de quem chega e não parte mais
O vento que traz água de mares solitários
Para abrandar a violência de muitos calores preocupantes
Desejaria ter esta chance, e não ter que agradar a ninguém
Não precisar dizer as horas nem fazer provas para que professores
me recompensem com sorrisos de confiança
-- pois não quero que confiem em mim
Esqueçam-me, deixem-me entregue ao vinho e à guitarra
que alguém toca em outro apartamento
Para que tantas posições, tantos cargos, tantos números
Não há diferença entre dez e um bilhão
Uma estrela em si é esplendor suficiente para encantar
almas na eternidade aos pés de Deus
que está cansado de tanta fanfarrice,
se é que ele não é ateu.
Desejo tornar-me aquele rastro de nuvem azul-escura
Para roçar no telhado dos meninos lindos de cabelos pretos
que sonham com carros e grandes caçadas
e um dia escreverão poemas de amor tolos
Quero ser a nuvem que chega, não a que se vai para o horizonte
Como um desejo mal compreendido que não se satisfez.
Thursday, January 31, 2008
Tuesday, January 29, 2008
A peça de jazz mais bela do mundo
'Round Midnight
(Thelonious Monk)
It begins to tell,
'round midnight, midnight.
I do pretty well, till after sundown,
Suppertime I'm feelin' sad;
But it really gets bad,
'round midnight.
Memories always start 'round midnight
Haven't got the heart to stand those memories,
When my heart is still with you,
And ol' midnight knows it, too.
When a quarrel we had needs mending,
Does it mean that our love is ending.
Darlin' I need you, lately I find
You're out of my heart,
And I'm out of my mind.
Let our hearts take wings'
'round midnight, midnight
Let the angels sing,
for your returning.
Till our love is safe and sound.
And old midnight comes around.
Feelin' sad,
really gets bad
Round, Round, Round Midnight
(Thelonious Monk)
It begins to tell,
'round midnight, midnight.
I do pretty well, till after sundown,
Suppertime I'm feelin' sad;
But it really gets bad,
'round midnight.
Memories always start 'round midnight
Haven't got the heart to stand those memories,
When my heart is still with you,
And ol' midnight knows it, too.
When a quarrel we had needs mending,
Does it mean that our love is ending.
Darlin' I need you, lately I find
You're out of my heart,
And I'm out of my mind.
Let our hearts take wings'
'round midnight, midnight
Let the angels sing,
for your returning.
Till our love is safe and sound.
And old midnight comes around.
Feelin' sad,
really gets bad
Round, Round, Round Midnight
Monday, January 28, 2008
Proparoxítonos
Secos álamos
Ermos plátanos
Turvos cálamos
Vivos ábacos
Canto úmido
Choro túrgido
Grito híbrido
Sono cúpido
Música bêbada
Bêbada tórrida
Tórridos ímpetos
Ímpetos ácidos
Secos álamos
Ermos plátanos
Turvos cálamos
Vivos ábacos
Canto úmido
Choro túrgido
Grito híbrido
Sono cúpido
Música bêbada
Bêbada tórrida
Tórridos ímpetos
Ímpetos ácidos
Secos álamos
Aos Infiéis
aos infiéis
a espada
aos ímpios
a maldição
aos que derramam
o óleo sagrado
no chão da rua
e não tiram os sapatos
no templo branco
a espada
aos infiéis
a danação eterna
aos que se despejam
lentos sedentos obscenos
sobre a urna
a espada casta
sem misericórdia
aos infiéis
a noite sem lua
a espada
aos ímpios
a maldição
aos que derramam
o óleo sagrado
no chão da rua
e não tiram os sapatos
no templo branco
a espada
aos infiéis
a danação eterna
aos que se despejam
lentos sedentos obscenos
sobre a urna
a espada casta
sem misericórdia
aos infiéis
a noite sem lua
Flores - Meet the Flowers
Meet my daffodil
Eat that daisy for breakfast
Breathe those heathers
in thru your dandelions
Observe minhas acácias
Beba meus licores de rosas
Lute com suas tulipas
Por melhores papoulas
Vista vitórias-régias estendidas
Como lençóis bordados de marias-sem-vergonha
Estude azaléias
E gradue-se copos-de-leite
Deite-se jacintos e desperte estrelítzia.
Earn some carnations
Kiss your lily
Bring back your poppy home
Smile your buttercup to me
Morra seus amarílis
Viva seus girassóis
Work your magnolia
Turn your orchid off
Reze lírios a Deus
Pague jasmins ao Demônio
Meet the Flowers on the subway train.
Eat that daisy for breakfast
Breathe those heathers
in thru your dandelions
Observe minhas acácias
Beba meus licores de rosas
Lute com suas tulipas
Por melhores papoulas
Vista vitórias-régias estendidas
Como lençóis bordados de marias-sem-vergonha
Estude azaléias
E gradue-se copos-de-leite
Deite-se jacintos e desperte estrelítzia.
Earn some carnations
Kiss your lily
Bring back your poppy home
Smile your buttercup to me
Morra seus amarílis
Viva seus girassóis
Work your magnolia
Turn your orchid off
Reze lírios a Deus
Pague jasmins ao Demônio
Meet the Flowers on the subway train.
Inspirado em V. Williams
And So Leaves The Bird
wild, wild and high
so high it is
become adult
precisely
and the wind
plays in the woods
lonesome flies
wild and tight
in the limit of fire
in the circle of fire
hungry tiger wild
among the trees
nonstop, falls
with the leaves
wild, and wild comes
the strengthening absence
cool, no remembrances
in the night that is wild
for the day will not be mild
any longer, my friends
wild, cool and far
the city from the star
bright and wild
and colorless mild
due to “The Lark Ascending”, poem by G. Meredith and music by V. Williams
wild, wild and high
so high it is
become adult
precisely
and the wind
plays in the woods
lonesome flies
wild and tight
in the limit of fire
in the circle of fire
hungry tiger wild
among the trees
nonstop, falls
with the leaves
wild, and wild comes
the strengthening absence
cool, no remembrances
in the night that is wild
for the day will not be mild
any longer, my friends
wild, cool and far
the city from the star
bright and wild
and colorless mild
due to “The Lark Ascending”, poem by G. Meredith and music by V. Williams
Saturday, January 26, 2008
Poema para um carioca
A beleza me afeta profundamente solene
Como a brisa que tange as cordas de uma guitarra
Quente e fria, aterradora e lânguida
Traz um perfume no silêncio da noite e desperta-me
A beleza que traz consigo o ardor de não saber
A beleza pérfida ou menina que corre na chuva
Beleza densa na praia, que caminha inconsciente
Como música de roda que as meninas vão entoando
Beleza, afasta-te de mim, deixa-me
Nada fiz contra ti, ao contrário, eu te canto,
Eu que sou namoradeira e vítima da beleza
Façamos um pacto: deixa os meninos a sós nas praias
Abandone-os, senão terei que apelar para a bruxaria.
Como a brisa que tange as cordas de uma guitarra
Quente e fria, aterradora e lânguida
Traz um perfume no silêncio da noite e desperta-me
A beleza que traz consigo o ardor de não saber
A beleza pérfida ou menina que corre na chuva
Beleza densa na praia, que caminha inconsciente
Como música de roda que as meninas vão entoando
Beleza, afasta-te de mim, deixa-me
Nada fiz contra ti, ao contrário, eu te canto,
Eu que sou namoradeira e vítima da beleza
Façamos um pacto: deixa os meninos a sós nas praias
Abandone-os, senão terei que apelar para a bruxaria.
Thursday, January 24, 2008
Ventando
Como vento rápido, brisa matinal
Veio e desalinhou meus cabelos
Veio e foi-se a brisa, brincando ainda
Com meu vestido de moça triste
Como ventania que se acerca matreiro
das flores mal nascidas de pequeninas corolas
Veio e foi-se lançando ainda um olhar de saudade
Foi-se a brincar no meio do mundo com as folhas do pensamento
Valsando vestidos azuis e cartas voando
ao cemitério de anjinhos prematuros
Vai-se o diabólico vento alçando cantorias
Como veio semeando desejos antigos numa nave de não-sei-quê.
Doçura natimorta pela bruta poeira do dia.
Veio e desalinhou meus cabelos
Veio e foi-se a brisa, brincando ainda
Com meu vestido de moça triste
Como ventania que se acerca matreiro
das flores mal nascidas de pequeninas corolas
Veio e foi-se lançando ainda um olhar de saudade
Foi-se a brincar no meio do mundo com as folhas do pensamento
Valsando vestidos azuis e cartas voando
ao cemitério de anjinhos prematuros
Vai-se o diabólico vento alçando cantorias
Como veio semeando desejos antigos numa nave de não-sei-quê.
Doçura natimorta pela bruta poeira do dia.
Tuesday, January 22, 2008
Saturday, January 12, 2008
Poema curto
Quero um poema curto
para meus amigos cantarem
num luau, beira-mar, no leito
quero um poema curto
como uma canção de ninar
para o meu amor do futuro
lembar-se de mim
na rua, no mercado, no ônibus
Poema curto, nao me atraiçoes
Canta para mim, acaricia
meus cabelos molhados
beija meus olhos fechados
Poema curto, adormece no seio
poema curto, assobia no escuro da mata.
para meus amigos cantarem
num luau, beira-mar, no leito
quero um poema curto
como uma canção de ninar
para o meu amor do futuro
lembar-se de mim
na rua, no mercado, no ônibus
Poema curto, nao me atraiçoes
Canta para mim, acaricia
meus cabelos molhados
beija meus olhos fechados
Poema curto, adormece no seio
poema curto, assobia no escuro da mata.
Friday, January 11, 2008
Última Hora
Silenciemos, amigos.
Nus, estamos sob o julgamento
da fria grande lua.
Nus, somos prisioneiros
apenas do deus-sol.
Sejamos serenos
à hora da execução
Que me deram direito
a uns goles de vinho
e estou entregue
à paz dos videntes cegos
dos amantes sem consolo
dos criminosos sem perdão.
Nus, estamos sob o julgamento
da fria grande lua.
Nus, somos prisioneiros
apenas do deus-sol.
Sejamos serenos
à hora da execução
Que me deram direito
a uns goles de vinho
e estou entregue
à paz dos videntes cegos
dos amantes sem consolo
dos criminosos sem perdão.
Cecília Meireles, vidente, artista
Canção de alta noite
Alta noite, lua quieta,
muros frios, praia rasa.
Andar, andar, que um poeta
não necessita de casa.
Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono.
Um poeta, na noite morta,
não necessita de sono.
Andar...Perder o seu passo
na noite, também perdida.
Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida.
Andar... - enquanto consente
Deus que seja a noite andada.
Porque o poeta, indiferente,
anda por andar - somente.
Não necessita de nada.
Autor: Cecília Meireles
Alta noite, lua quieta,
muros frios, praia rasa.
Andar, andar, que um poeta
não necessita de casa.
Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono.
Um poeta, na noite morta,
não necessita de sono.
Andar...Perder o seu passo
na noite, também perdida.
Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida.
Andar... - enquanto consente
Deus que seja a noite andada.
Porque o poeta, indiferente,
anda por andar - somente.
Não necessita de nada.
Autor: Cecília Meireles
Tuesday, January 08, 2008
Poema de Adélia Prado
O amor no éter
Há dentro de mim uma paisagem
entre meio-dia e duas horas da tarde.
Aves pernaltas, os bicos mergulhados na água,
entram e não neste lugar de memória,
uma lagoa rasa com caniço na margem.
Habito nele, quando os desejos do corpo,
a metafísica, exclamam:
como és bonito!
Quero escrever-te até encontrar
onde segregas tanto sentimento.
Pensas em mim, teu meio-riso secreto
atravessa mar e montanha,
me sobressalta em arrepios,
o amor sobre o natural.
O corpo é leve como a alma,
os minerais voam como borboletas.
Tudo deste lugar
entre meio-dia e duas horas da tarde.
Há dentro de mim uma paisagem
entre meio-dia e duas horas da tarde.
Aves pernaltas, os bicos mergulhados na água,
entram e não neste lugar de memória,
uma lagoa rasa com caniço na margem.
Habito nele, quando os desejos do corpo,
a metafísica, exclamam:
como és bonito!
Quero escrever-te até encontrar
onde segregas tanto sentimento.
Pensas em mim, teu meio-riso secreto
atravessa mar e montanha,
me sobressalta em arrepios,
o amor sobre o natural.
O corpo é leve como a alma,
os minerais voam como borboletas.
Tudo deste lugar
entre meio-dia e duas horas da tarde.
Sunday, January 06, 2008
Lamento
mundo dos machos da espécie
mundo de jogos e argumentos
mundo de juízes e homens sérios
mundo cão
mundo onde pisam nas putas depois do abuso
mundo de papéis vulgares e frases feitas
mundo dos machos
mundo político, mundo dos gráficos
mundo das tabelas, mundo do mercado
mundo cheio de olheiras
mundo que não dormiu
mundo que não amou
mundo que bebeu café demais
mundo que se entupiu de leis e cárceres
e vozes imponentes violando a verdade
verdade quase nua com fino véu
verdade de pudor de menina
verdade com voz sussurrada no vento
verdade com útero e sem baionetas
mundo de misérias e berros
mundo de mijos contra os muros pichados
mundo de desejos reprimidos
em favor da maior potência
e do inchaço da pança da intelligentsia
jogos de videogames de meninos
jogos de cartas, contratos sociais
mundo de fumo e dentes amarelos
mundo funcional dos machos reprimidos
mundo cão, mundo-pistola, mundo fálico
mundo de jogos e argumentos
mundo de juízes e homens sérios
mundo cão
mundo onde pisam nas putas depois do abuso
mundo de papéis vulgares e frases feitas
mundo dos machos
mundo político, mundo dos gráficos
mundo das tabelas, mundo do mercado
mundo cheio de olheiras
mundo que não dormiu
mundo que não amou
mundo que bebeu café demais
mundo que se entupiu de leis e cárceres
e vozes imponentes violando a verdade
verdade quase nua com fino véu
verdade de pudor de menina
verdade com voz sussurrada no vento
verdade com útero e sem baionetas
mundo de misérias e berros
mundo de mijos contra os muros pichados
mundo de desejos reprimidos
em favor da maior potência
e do inchaço da pança da intelligentsia
jogos de videogames de meninos
jogos de cartas, contratos sociais
mundo de fumo e dentes amarelos
mundo funcional dos machos reprimidos
mundo cão, mundo-pistola, mundo fálico
Saturday, January 05, 2008
Wednesday, January 02, 2008
Afinal
Meus poemas são todos iguais
Tem os grilos, as flores e os rios
o vento e a floresta, a montanha e tudo mais
Já cansei deles, não dos seres que habitam lá
mas das odes que escrevo, das quais eles não precisam.
Também não vou ser útil e começar a escrever
sobre os sérios infortúnios do mundo
os atentados, os assassínios, as fomes e os canalhas
Porque eu não sei escrevê-los, só odiá-los.
No final não sei mais o que escrever.
Meu cansaço me dá dá uma dor na cervical.
Não obstante, ouço um som na noite, um som de breu.
Tem os grilos, as flores e os rios
o vento e a floresta, a montanha e tudo mais
Já cansei deles, não dos seres que habitam lá
mas das odes que escrevo, das quais eles não precisam.
Também não vou ser útil e começar a escrever
sobre os sérios infortúnios do mundo
os atentados, os assassínios, as fomes e os canalhas
Porque eu não sei escrevê-los, só odiá-los.
No final não sei mais o que escrever.
Meu cansaço me dá dá uma dor na cervical.
Não obstante, ouço um som na noite, um som de breu.
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