Thursday, January 31, 2008

Nuvem

Queria tornar-me frio de nuvens
Não o frio que olha através do cais triste para o horizonte
Não o frio do farol na ponta do rio contra o oceano
Mas sim o frio do frescor de quem chega e não parte mais
O vento que traz água de mares solitários
Para abrandar a violência de muitos calores preocupantes


Desejaria ter esta chance, e não ter que agradar a ninguém
Não precisar dizer as horas nem fazer provas para que professores
me recompensem com sorrisos de confiança
-- pois não quero que confiem em mim
Esqueçam-me, deixem-me entregue ao vinho e à guitarra
que alguém toca em outro apartamento



Para que tantas posições, tantos cargos, tantos números
Não há diferença entre dez e um bilhão
Uma estrela em si é esplendor suficiente para encantar
almas na eternidade aos pés de Deus
que está cansado de tanta fanfarrice,
se é que ele não é ateu.



Desejo tornar-me aquele rastro de nuvem azul-escura
Para roçar no telhado dos meninos lindos de cabelos pretos
que sonham com carros e grandes caçadas
e um dia escreverão poemas de amor tolos
Quero ser a nuvem que chega, não a que se vai para o horizonte
Como um desejo mal compreendido que não se satisfez.

1 comment:

JJ said...

Vejo que és uma bacante! Já havia perscrutado os teus posts lá no "Arautos" e agora tive a certeza. Meus parabéns. Rega-te de vinho que da tua bebedeira regar-me-ei sempre.

Abs