Friday, February 13, 2009

O que não tem nome




Rua abaixo há uma estrela.
Rua abaixo há um gato na esquina.
No céu nuvens cor de cinza sobre o azul escuro.
Mais à frente o mar medonho e sereno. E anões fazem silêncio.
Depois da janela há pedras e fantasmas que descem pálpebras
e os pássaros fazem malabarismos de felicidade.
E são a prova de que o inominável está presente, nu.
O sol aquece minha pele e meu corpo já disse sim.
Meus olhos lêem cantos no verde das árvores.
Ainda que eu fosse a balconista daquela padaria
e só passasse as horas longas a servir pães quentes
saberia que o inominável está no entorno.
Em cima dos muros, entre os carros, no ar com cheiro de grama.

Seita mística é nada mais que ter sentidos, olhos grandes,
e principalmente ouvidos. Ouvidos na nuca.
Que a percepção maior da alegria e do silêncio
por trás das coisas sussurra e murmura na nuca,
debaixo dos pés, no couro cabeludo.

O gato saltou para a janela acima do precipício.
O piano começou uma peça em tom menor.
O rio desce a rua para o mar, para a baía.

Durmo já. E meu sorriso se abre no sonho
como as asas de uma borboleta quando nasce o sol,
e sobre o som do rio ali adiante com nenúfares e grilos mortos
na manhã criança, que nunca se esquece de nada.

2 comments:

Anonymous said...

Cecília!

"E são a prova de que o inominável está presente, nu.
(...)
ainda que eu fosse a balconista daquela padaria
e só passasse as horas longas a servir pães quentes
saberia que o inominável está no entorno."

adorei esse poema...!
ainda bem, porque se vc escrevesse como eu, exatamente, acharia um saco te ler...rs
mas nao sei o que é...há gente que diga que acontecem umas certas mudanças sutis por trás das coisas, quando chega o tempo certo...
quanto a mim, a cada dia tudo fica mais estranho.

no mais, espero que tudo ok por aí...

mais uma vez, belíssimo poema. os últimos, pra ser mais abrangente, todos muito bons...

té breve...

bjo!

Anonymous said...

Muito bom...

...




até