Sunday, May 24, 2009
Destino
Estradas, muitas de asfalto entre árvores
outras estradas, sob estrelas, entre morros e descampados.
Vejo com pálpebras fechadas carros, e aviões, e outros veículos de metal.
Escondem-se insetos azuis e verdes sob pedras nas margens
e no fim há um cais, e um grande rio.
No tempo futuro, imagens do passado feitas em cristal
flutuam alheias à aproximação do presente e ao medo.
No passado, líquidas, as flores e fantasmas sobrevoam caminhos
tornando-se um e outro e confundindo planos de grandeza
criando novas paisagens, gerando e aniquilando pânicos, tristezas,
e as alegrias parecem meras guloseimas e brinquedos de plástico.
Mas o que será o que serei não está aqui. Há muitas florestas e cerrados
e não se pode caminhar pelas calçadas torpes das esquinas de domingo
onde se deitam os embriagados mal-vestidos e mórbidos de calor
com suas canções antigas e seus jargões das décadas de ilusões passadas.
Nem posso sentar-me nos degraus dos templos do saber e desejar as louças
e jóias mais brilhantes nas cabeças dos sacerdotes
como fazem meus pares, desejando em silêncio, posando de monges
e ardendo em terríveis e infelizes ambições de glórias preditas.
Meu destino está no mapa que o deus com cabeça de gato engoliu enquanto se afogava
no pequeno mar atrás do cemitério de crianças depois da clareira.
Minha rota de viagem é conhecida apenas pelos deuses mortos, assim não posso consultá-los
e mais ninguém nesta terra poderá me contar que pertences posso levar, que barca tomar,
ou se vou chegar, onde, quando, e o que vou encontrar lá.
Mas todos os dias leio nos olhos do gato, e no último raio do crepúsculo
uma mensagem urgente, uma voz que agoniza e um braço que brande um metal
e clama em meu coração, sussurrando, que parta já, e não olhe para os lados.
Não posso contar a ninguém. Partirei de madrugada.
E quando todos despertarem, estarei conversando com o vento.
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2 comments:
eia!! não me assustes assim, menina tão linda!
bem interessante. tem uns trechos que me fazem pensar...
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