Friday, May 29, 2009

Oratório





O cello deita-se de lado
A cadeira senta-se no entardecer
Pássaros que cantam chuva partem
nuvens que escondem estrelas.
O cello recostado ao solo
O arco pousado no colo
O gato aos pés do cello
Um pão assa no forno
Uma taça de vinho aguarda.

Pés nus roçam a madeira.
Mãos soltas sobre a mesa
fingem segurar a taça.
O cello espera mal adormecendo
Madeira e vinho e pão
sol e nuvem e chuva distante
pássaros e assobio dos ventos.

Olhos através da tarde
para além de estradas
e sob o véu de jovens estrelas
Olhos contra a lua que nasce
O cello sonha imóvel
com longas rapsódias e suspiros.
O gato estica os músculos
enquanto o pão perfuma a madeira
e vai pela janela um suspiro.

Sussurro dentro da noite que chega
de viagem ao redor do mundo.
Noite que beija o cello
noite que acaricia o gato
noite que entra no vinho
noite cobre de mantos anis
as cabeças de todos os seres,
taças, pães, gatos, mãos e instrumentos.

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