Monday, June 15, 2009

Movo-me como vento






Pela janela do carro, respiro
Pelo vidro do ônibus, componho.

Nas ruas chuvosas na noite
caminho-mal-observo as pedras
e os lagartos que me vêem.
Observo o mundo me espreitando,
e quanto mais você me buscar,
mais longe irei, mais desvanecerei.

Minhas botas estão enlameadas
e danço na chuva no frio
a música do sangue nas têmporas.
Caminho na praia de inverno sozinha
com a capa cobrindo o cabelo curto
e o vento frio me leva para ruas inóspitas
onde sou feliz. Um poste reflete fantasmas na água
que umedeçe o asfalto logo adiante,
e na praia não há vivalma.

Vou adiante e retorno, e ouço o jazz
entro, bebo vinho, e retorno à rua
tomo o último ônibus, vou na madrugada.
Você não irá me encontrar,
você no máximo irá trocar palavras de cortesia
e quando mal perceber estarei no penúltimo vagão.
Lá estará você com minha foto nas mãos.
Pareço uma mulher meiga e simpática
e entendo que você pensou por um minuto
que uma história se iniciara finalmente.
Mas o vento me arrasta com a chuva.

Movo-me para além, movo-me para debaixo
de arbustos e escuridão e reapareço entre ondas
sempre com novos discursos e novos olhares
renascidos de noites febris e cheias de lágrimas
sob as mãos de bruxas de cabeleiras gigantes.
Sempre novas músicas e modas, após noites de breu.

Lá estou eu na beira daquela estrada que passa
Lá estou eu sentada falando com o rio na ponte
Lá estou eu no píer que avança enorme e alto na tempestade
Lá estou eu no bar escondida com uma dose de uísque.
Para lá me leva a chuva, para cá me traz o vento.

3 comments:

Lucia said...

adorei cecília. lindo

tork said...

eu também...

Ricardo Valente said...

Bah, sensacional! Acho que to ficando seu fã... Beijo!