Friday, December 02, 2011

O retorno



Na chuva, todo pedestre é desamparado.
Na noite, todos os felinos são abandonados.
Mas eis que se postam altivos sobre os muros.

Quem será o homem que irei abraçar nas trevas
não importa o que haja no mundo?
Que mão será esta que segurarei no gelo?

Isto come meu coração com a rapidez da lacraia no chão
e com a voracidade do touro faminto e abusado na arena cruel.

Um desastre ao som de farfalhar de asas de morcegos.
Uma lua triste e mórbida como uma velha puta fumante.

Em noites como esta, aqueles que não têm amor cometem crimes hediondos.
Em noites como esta, os que amam e não são amados deitam-se nos rios.

Hoje as crianças sensíveis choram sob lençóis e temem a ventania.
Hoje bêbados escrevem cartas e dormem abraçados às suas garrafas de gim.
Hoje mães angustiadas fazem promessas e ninam bonecos nos quartos de seus filhos desaparecidos.

A calçada está molhada e vejo olhos negros nas copas das árvores.
O fim comparece nas cartas, nos búzios, nas linhas magras de nossas mãos assustadas.


1 comment:

Tami l'etrange said...

Como na maioria dos teus textos, não sei o que dizer... Suas palavras tiram-me o fôlego e encantam-me de um jeito que não consigo explicar...
Parabéns pela escrita!