Sunday, December 04, 2011

Luau




Quero causar a dor que me causam em dobro.
Mas como um gato, espreito entre sombras e deslizo
acovardada pelo som dos homens e encantada pela lua.

Não pretendo lhe enviar esta carta no tempo futuro,
pois o tempo se alongará demais e o mundo empalidecerá.

Hoje é minha hora, o Agora se abre como asas de gaivota
competindo com os pescadores de Piratininga.

Tenho ânsias e choques de melancolia
e preciso da salvação que mora na cortiça de uma garrafa de vinho.
Sempre acreditei que Merlot fosse uma boa cepa e eu estava certa.

Não há ninguém no fim do corredor e isto também é uma ilusão.
A chuva trouxe um farfalhar prateados às folhas
de um verão incipiente, e este som alimenta estrelas.

Mas quão distantes elas estão de mim e como lamento.
E meu canto que possuía pernas longas e força para saltar
agora se esconde esquálido sob os bancos.

Uma rocha que confronta a ressaca oceânica.
Uma flecha lançada para o vazio.

3 comments:

Tami l'etrange said...

Como eu desejo saber escrever assim... Você tem aquela coisa que os poetas antigos possuíam. Aquele quê que nos faz estremecer e nos rouba a respiração fazendo o ar escapar pelos pulmões no exato momento em que uma onde de calor percorre nosso sistema, que fica imediatamente gelado após sua passagem. Como aquele friozinho que dá barriga quando descemos rápido de mais. :)

Cecil said...

Moça, muitíssimo obrigada pelas belas palavras. Sinto-me só na escrita às vezes, escrevo como quem vai morrer, como foram estes últimos poemas... e into-me menos só com sua leitura e apreciação. Nossa conexão à distância me traz alegria. Grande abraço!

Tami l'etrange said...

Te entendo... É justamente por conta desse sentimento que me identifico tanto...
Mas espero, de coração que você consiga passar por cima disso!

Beijos