canto a constância dos ciclones
não ouvir música traz a sobriedade
Aquele maldito russo com seu piano assombrado
de mares negros e árvores mortas
implanta em meus olhos a floresta ampla
que alastra os vales dos teus olhos
canto a constância dos ciclones
não ouvir música traz a serenidade
Alaga os quartos este trio elegíaco
onde habita um violino que já se dissolve
na persistência do desejo sobre a matéria
canto a constância dos ciclones
não ouvir música traz a saciedade
Uma doente travestida sob uma camisola antiga
espalha esgares descomedidos no corredor
buscando no som dos braços que rasgam o ar
um padrão que fixe em madeira e aço
todos os sorrisos, os movimentos, os ecos de tua presença
canto a constância dos ciclones
não ouvir música traz a senilidade
Agora me rendo à ferocidade da vontade
Agora me rendo ao perfume espectral de flores tirânicas
Entrego-me à doçura desesperada dos sentidos
Arderei na sagração do tanino de um beijo mantido
no tonel construído por um luthier envelhecido
canto a constância dos ciclones
não ouvir música é possuir a sanidade.
1 comment:
[ staccato ]
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