Saturday, January 10, 2009

Hospitalidade

vista do Pão de Açúcar na base do Museu de Arte Contemporânea, em Niterói

Não sei de fato sobre o que quero sonhar
Mas sei o que desejo... e não compartilho. Não.
Não vou responder à tua pergunta de criança
Nem dar-te os meus secretos tesouros...
pois é privilégio somente de alguns, dos Poucos,
sorver essa lua amarela e cintilante como cerveja de trigo
no meio da madrugada sonhar com bicicletas e gatos
Violoncelos, vinhos, ventanias que sacodem cabelos
Azar o teu que és criança e tens muito que aprender
Não, não divido contigo essa minha taça, nem um gole

Não saberás nunca que se passa aqui
Nesta cidade dourada e verde, ah Rio de Janeiro
Quanta música e urina se misturam nessa maresia
Eu não divido... és forasteiro, e serás, criança linda
Serás estrangeiro na terra que é minha.
Afinal, como gostas de dizer, sou dona da cidade

É um privilégio dado a alguns essa arte
essa liberdade de silêncios e fugas
Quem foge sou eu... sou a dona da cidade
Essa revolução de cabelos e águas em canais, lá vem.
Essas nuvens que pressagiam espantos... lá vêm.
Não tenho medo, nasci de seus ventres brancos
Sou conterrânea da tempestade.
Nuvens estarão onde quer que eu vá: eu vos saúdo!

Não a todos é dado o canto, a visão
e a voz para o canto e o ouvir os trovões,
para as flores e caramujos que acontecem.
Não foi dado a ti - perceba apenas, resignado
que foi bendito o dia em que cruzamos teu caminho,
e que te concedemos honras, forasteiro,
um abrigo, flores, vinho e música para violoncelo.

2 comments:

R. M. Peteffi said...

lindo poema, cecília!
cada vez melhor!

bjo

tork said...

eia! este machucou... bom demais...