Monday, December 31, 2007

Jardim secreto

É ano novo, ano que vem
vem com o vento ventando estrelas
ventando dissabores, cores, solidões
Ano que vem, dia que vai
o mar vai cantando seu samba-canção
o sol vai tecendo flores nos corpos
o chão vai fermentando o verão.

Ano novo, borbulham na taça
meus poemas pra te dar
minhas flores de Iemanjá.

Caminhando mundo adentro, dezembro!

Tuesday, December 25, 2007

Poema de W.H. Auden

The More Loving One
by W. H. Auden

Looking up at the stars, I know quite well

That, for all they care, I can go to hell,

But on earth indifference is the least

We have to dread from man or beast.



How should we like it were stars to burn

With a passion for us we could not return?

If equal affection cannot be,

Let the more loving one be me.



Admirer as I think I am

Of stars that do not give a damn,

I cannot, now I see them, say

I missed one terribly all day.



Were all stars to disappear or die,

I should learn to look at an empty sky

And feel its total dark sublime,

Though this might take me a little time.

Friday, December 14, 2007

La casada infiel, de Garcia Lorca - magnânimo

Y que yo me la llevé al río
creyendo que era mozuela,
pero tenía marido.
-

Fue la noche de Santiago
y casi por compromiso.
Se apagaron los faroles
y se encendieron los grillos.
-

En las últimas esquinas
toqué sus pechos dormidos,
y se me abrieron de pronto
como ramos de jacintos.
-

El almidón de su enagua
me sonaba en el oído,
como una pieza de seda
rasgada por diez cuchillos.
-

Sin luz de plata en sus copas
los árboles han crecido,
y un horizonte de perros
ladra muy lejos del río.
-

Pasadas las zarzamoras,
los juncos y los espinos,
bajo su mata de pelo
hice un hoyo sobre el limo.
-

Yo me quite la corbata.
Ella se quitó el vestido.
Yo el cinturón con revólver.
Ella sus cuatro corpiños.
-

Ni nardos ni caracolas
tienen el cutis tan fino,
ni los cristales con luna
relumbran con ese brillo.
-

Sus muslos se me escapaban
como peces sorprendidos,
la mitad llenos de lumbre,
la mitad llenos de frío.
-

Aquella noche corrí
el mejor de los caminos,
montando en potra de nácar
sin bridas y sin estribos.
-

No quiero decir, por hombre,
las cosas que ella me dijo.
La luz del entendimiento
me hace ser muy comedido.
-

Sucia de besos y arena,
yo me la llevé del río.
Con el aire se batían
las espadas de los lirios.
-

Me porté como quien soy.
Como un gitano legítimo.
Le regalé un costurero
grande, de raso pajizo,
-

y no quise enamorarme
porque teniendo marido
me dijo que era mozuela
cuando la llevaba al río.

Monday, November 19, 2007

O poema é para os sem vez

Pudor

O canto da poesia não foi designado
aos belos deuses das esferas antiquadas
Nem aos belos corpos anacrônicos
dos ricos entediados, nem aos poderosos
armados, amargos, brutais, portentosos
que caminham sobre o mundo com
suas naves de mil janelas, grandes aves
Brutas aves gordas prontas para o abate.

O canto geral da poesia é para as joaninhas e os gatos
É para os sem voz, os condenados, os moribundos
A poesia é feita para os marginais sem mães,
as putas com seus filhos famintos, seus amores partidos,
é para os cegos, os esquizofrênicos
O canto geral é para os trabalhadores
ignorantes das marinas, das estivas.

O canto foi feito não para enaltecer
os egos de vaidosos spallas ou
arrogantes diretores de orquestra
Ou de políticos risonhos com suas mulheres
de vestidos longos, soirées cheirando a vinho
Nem para adornar o ventre
de princesas de cílios movediços

O canto foi feito para os pés rachados
dos sem-terra que aram e bradam e caminham
por essas sangrentas terras de meu Deus.
O canto foi feito para os pequenos artistas
mestres com seus jardins interiores
sem um centavo no bolso e amores perdidos
O canto foi feito para quem está nu.

O poema foi feito para os enjeitados,
as crianças de cinco anos
os suicidas que morrem de amor
Os rebeldes que já não têm nada a perder.
O canto não foi feito para vocês.

Sunday, November 18, 2007

Sshhhh...

"Não se pode machucar o silêncio, que é sagrado."
João Gilberto

Saturday, November 17, 2007

Hardy, o dândi da Matemática

The mathematician's patterns, like the painter's or the poet's must be beautiful; the ideas, like the colors or the words must fit together in a harmonious way. Beauty is the first test: there is no permanent place in this world for ugly mathematics.
A Mathematician's Apology, London, Cambridge University Press, 1941.

A Pureza de Ideais de Hilbert

Mathematics knows no races or geographic boundaries; for mathematics, the cultural world is one country.
In H. Eves Mathematical Circles Squared, Boston: Prindle, Weber and Schmidt, 1972.

O Humor de Leonard Euler

[upon losing the use of his right eye]
Now I will have less distraction.
In H. Eves In Mathematical Circles, Boston: Prindle, Weber and Schmidt, 1969.

Monday, November 12, 2007

Les Amants d'Un Jour, chanson de Piaf

Moi j'essuie les verres
Au fond du café
J'ai bien trop à faire
Pour pouvoir rêver
Mais dans ce décor
Banal à pleurer
Il me semble encore
Les voir arriver...

Ils sont arrivés
Se tenant par la main
L'air émerveillé
De deux chérubins
Portant le soleil
Ils ont demandé
D'une voix tranquille
Un toit pour s'aimer
Au coeur de la ville
Et je me rappelle
Qu'ils ont regardé
D'un air attendri
La chambre d'hôtel
Au papier jauni
Et quand j'ai fermé
La porte sur eux
Y'avait tant de soleil
Au fond de leurs yeux
Que ça m'a fait mal,
Que ça m'a fait mal...

Moi, j'essuie les verres
Au fond du café
J'ai bien trop à faire
Pour pouvoir rêver
Mais dans ce décor
Banal à pleurer
C'est corps contre corps
Qu'on les a trouvés...

On les a trouvés
Se tenant par la main
Les yeux fermés
Vers d'autres matins
Remplis de soleil
On les a couchés
Unis et tranquilles
Dans un lit creusé
Au coeur de la ville
Et je me rappelle
Avoir refermé
Dans le petit jour
La chambre d'hôtel
Des amants d'un jour
Mais ils m'ont planté
Tout au fond du cour
Un goût de leur soleil
Et tant de couleurs
Que ça m'a fait mal,
Que ça m'a fait mal...

Moi j'essuie les verres
Au fond du café
J'ai bien trop à faire
Pour pouvoir rêver
Mais dans ce décor
Banal à pleurer
Y'a toujours dehors...
... La chambre à louer...

Sunday, November 11, 2007

Khalil Gibran

“When you work you are a flute through whose heart the whispering of the hours turns to music. Which of you would be a reed, dumb and silent, when all else sings together in unison?”

Thursday, November 01, 2007

Laranjeiras na Chuva

As Luzes de Laranjeiras Quando Chove


Deus lacrimeja suas pratas entorpecidas.

Sinto o perfume da rua das Laranjeiras
e as árvores que murmurejam cores e um verde-claro
que é pizzicato que é de semifusas infantis
crianças perfumadas de pérolas que brincam na fresca noite
de chuva e lua na rua que vai dar no Cosme Velho.

Crianças com asas brilhantes
com seus brancos peitos arfantes
e seus olhos errantes
negros do escuro e preenchidos de estrelas
Crianças pálidas, azuis, douradas, prata
que flutuam fadas trites na rua de carros anis

Crianças atrás dos véus que são as folhas das paineiras
Sob a condescendência do Cristo e minhas lágrimas
de mulher apaixonada e criança que a infância tardou

chuva de Laranjeiras
Ouro entre as folhas escuras
Prata em intervalos diminutos e tons maiores
entre as copas principescas das árvores altas.

Quando chove em Laranjeiras
Sinos pequeninos que giram no ar são ouvidos
com o ouvido dos sonhos
com o silenciar dos desejos
com o desprendimento da alma
dado pela leve tristeza sábia
conferida pelos anos de delicadeza
e uma idade avançada.

Quando chove em Laranjeiras
ouço o repicar, o tilintar, o fecundar das luzes verdes
que em árias soltas e frias soltam suas vozinhas.
Veja seus cabelos de Órion, e Betelgeuse casta
no solitário suave céu de Laranjeiras
Cosme Velho, onde minhas estrelas adormecem frias e amorosas.

Feliz Dia de Finados

Tuesday, October 30, 2007

Sonata "O instrumento do Diabo"

I.
Você é meu reinado de estultícies
A esfinge que soberba se ergue em meu país
O silêncio masculino que massacra a casta razão
Você é minha floresta de horrores inauditos e belas górgonas.

II.
Vinho, dá-me com tua palidez espumante, a leveza
Dá-me o desprendimento, dá-me paz.
Meu coração é uma montanha de inconsistência
e desejos insaciados pelo silêncio do homem que amei.

III.
Uma vez uma cigana me disse:
dedica-te aos mistérios do mundo.
Minha profissão, minha hora, meu reino
é o de te amar, e auscultar nuvens anis.

Monday, October 29, 2007

29 de outubro

29 de outubro

dia azul e os carros violam rios
dia claro que corta o desvario

dia de lembrar, recoradação e consciência
são doces irmãs fiéis que dançam na chuva

a canção que canto não me ensinaram
aprendi com as cigarras tristes os grilos irritados

não me ensinaram a amar, por isso me embriago
bebo meu drinque, e me ponho a correr pelas alamedas

dia do renascimento, sempre-viva a flor descrente
viva aqui estou, apenas gestos no espaço, um dia desvanecidos

cantos e palavras e gestos, somos a forma, o conteúdo é a linha
fina arte que representa, máscara que dança sem líquidos interiores

sem substância que não o vestido, os deuses caminham e dançam
a luz toca um alaúde que é uma miríade cromática, palheta andante

os carros cortam o desvario e bombardeiam espíritos
covas profundas esperam pelas almas dos poetas e das libélulas

enquanto jovens, jogamos facilmente com as formas emotivas
e as luzes cegam o entardecer que poderia ser sombrio

mais uma madrugada de bruxas e luzes incandescentes
tenho medo, e escrevo para que elas não me devorem

temo tudo, e adormeço num carrossel de lembranças
e inconsciência é a ordem da noite, e dos dias, e dos crepúsculos

adormeço com meu amor no coração, e a morte nos olhos
e água nos cabelos, e fogo nos olhos, e ar nos sonhos

espero um despertar de hortelãs e passacaglias
e rondós e calmas luzes, onde estarei de branco, e uma viola.

O mundo é um palco - Shakespeare

All the world's a stage,
And all the men and women merely players:
They have their exits and their entrances;
And one man in his time plays many parts,
His acts being seven ages. At first the infant,
Mewling and puking in the nurse's arms.
And then the whining school-boy, with his satchel
And shining morning face, creeping like snail
Unwillingly to school. And then the lover,
Sighing like furnace, with a woeful ballad
Made to his mistress' eyebrow. Then a soldier,
Full of strange oaths and bearded like the pard,
Jealous in honour, sudden and quick in quarrel,
Seeking the bubble reputation
Even in the cannon's mouth. And then the justice,
In fair round belly with good capon lined,
With eyes severe and beard of formal cut,
Full of wise saws and modern instances;
And so he plays his part. The sixth age shifts
Into the lean and slipper'd pantaloon,
With spectacles on nose and pouch on side,
His youthful hose, well saved, a world too wide
For his shrunk shank; and his big manly voice,
Turning again toward childish treble, pipes
And whistles in his sound. Last scene of all,
That ends this strange eventful history,
Is second childishness and mere oblivion,
Sans teeth, sans eyes, sans taste, sans everything.

Friday, October 26, 2007

Anoushka

Uma gigante negra borboleta
dançou atormentada à minha janela
enquanto as cigarras vadias
entoavam as velhas madrigais
e monstruosas estrelas tensas
nasciam no céu de outubro.

A música que ouço não é deste mundo.
E tocas, divina Anoushka,
tocas tua cítara, e bebo meus anis.

O doce feminino toca
os fios da teia feminina.
Uma flor no verão
alimentada pela chuva-madre
que desce a encosta sem alarde.
A inteligência da lince
encontra a leveza do beija-flor.

Divina Anoushka,
toca a infinitude para o meu coração.

Sunday, October 21, 2007

Tagore e Lalla


Lalla, poetisa sufi

Let them jeer or cheer me;
Let anybody say what he likes;
Let good persons worship me with flowers;
What can any one of them gain I being pure?


If the world talks ill of me
My heart shall harbour no ill-will:
If am a true worshipper of God
Can ashes leave a stain on a mirror?

Rabindranath Tagore, poeta indiano

BEAUTY

Beauty is truth's smile
when she beholds her own face in
a perfect mirror.


Beauty is truth's smile
when she beholds her own face in a perfect mirror.


Beauty is in the ideal of perfect harmony
which is in the universal being;
truth the perfect comprehension of the universal mind.

Friday, October 12, 2007

Quando eu morrer leiam no meu velório

Shall I Compare Thee To A Summer's Day?

by William Shakespeare (1564-1616)


Shall I compare thee to a summer's day?
Thou art more lovely and more temperate.
Rough winds do shake the darling buds of May,
And summer's lease hath all too short a date.
Sometime too hot the eye of heaven shines,
And often is his gold complexion dimm'd;
And every fair from fair sometime declines,
By chance or nature's changing course untrimm'd;
But thy eternal summer shall not fade
Nor lose possession of that fair thou ow'st;
Nor shall Death brag thou wander'st in his shade,
When in eternal lines to time thou grow'st:
So long as men can breathe or eyes can see,
So long lives this, and this gives life to thee.

Thursday, October 11, 2007

Wednesday, October 10, 2007

La verité

Um martini seco
e um adeus
Um espumante
e um louvadeus
Cerveja de trigo
e uma bicicleta que passa
esquecendo o tempo antigo
Fico com o gelo
no martini
e os livros de Álgebra
que zombam das bebidas
sobre a mesa.
Muita solidão divina
ri da covardia
fresca em 18% de álcool.

Tuesday, August 21, 2007

Conjectura bastarda

Isso lhe dói
ao olhar no espelho
a plena constatação
da idiotice de sair
da própria natureza
à caça de ilusão.

Seria ela tão plana?,
pergunta-se, e não sei
se a resposta existe
pois não é claro
que a pergunta esteja
bem formulada.
Os problemas em aberto
são com freqüência
apenas questões
propostas por crianças
matematicamente
mal alfabetizadas.

Se as roupas não fossem
o que outros débeis gostos houvessem decidido
sua natureza estaria satisfeita
com longos andrajos
de rainha destronada
pois parece-me que é isto
que sua natureza determina.
Daqui em diante não mais
andará à cata dos sorrisos
e aplausos da pobre e ignara multidão.

Antes ser rainha nua no deserto
tórridas areias neves febris
que ser objeto de elucubrações mal formuladas
e assunto mal compreendido mal comentado
mal amado malquisto, mas elogiado por autistas
retardadas vis desatentas mentes lentas
famintos, ou antes gulosos, corações
sensuais e temíveis mesmo nos profundos
corredores da Academia – prefira
a indiferença gigante da silenciosa montanha
dos claros e frios lagos, dos quentes vulcões
dos altos mares – deuses, deuses esbeltos
deuses fatais: tenham piedade de vossa humilde
devota, pássaro perdido na minúscula sala
na fumegante cozinha dos risonhos e anuviados.

Seus sapatos são de folhas
Seu vestido é de sonatas.

Love love love

choro inteira
sofro por toda a humanidade
transparente, um copo d'água
transbordo e na chuva ninguém vê
a transparência sufocada de amor
a película túrgida e límpida de dor

sofro sem esforço
gratuita e livremente
com a fronte coroada de estrelas tristonhas
como uma rainha derrotada

uma flor azul desabrocho no frio
oferecendo aos transeuntes
e ao vento minha florescência dolorida
meu desabrochar de lágrimas fáceis
como oferece ao mundo graciosamente
a roseira suas ainda macias pétalas moribundas
e a paineira no outono suas folhas ressequidas

ofereço a vocês todos
minha tristeza em taças
e minha paixão insólita
ofereço meu pranto
como uma espada
que o vencido
estende ao vencedor
leve menear de cabeça
e um sorriso de muitas eras
ofereço a todos
e adormeço possuída
amorosamente
por um desqualificado vinho.

Dança

só existe o amor
o amante já se desfez
só existe o caminhar
não o caminhante
só há o comer
e não o que come
só pode haver o movimento
mas não o rio em si

há apenas o cantar
não pode haver cantor
quando existe, somente a música
não o músico, atrás da luz
como o sol atrás de seu brilho
só existe a dança
não o dançarino

estes fatos
são evidentes
por si próprios
quem não pode ver?

só pode haver o amar
não existe alguém que ame
só pode har o estender-se
e não a mão que se entrega
só existe o correr
mas não pode existit um corredor

quem não vê estas coisas
ainda não entendeu
que só existem as ondas
o vento e o cair de chuvas
e movimento no mundo
não há aquilo que se move
por si mesmo

sou o beber essa taça
sou o sonhar com montanhas
sou o escrever e o chorar
sou o querer e o cantar
não há qualquer ator em cena

portanto ao descerem as cortinas
silêncio em meu funeral, saiam do teatro
graciosamente com a consciência
de nunca ninguém terem visto.

Tuesday, August 07, 2007

July

See the cold and loveless
that blackbird
on the very edge
of the highest branch
early in the winter
morning light?

Feel the cold, frozen skin
sweet handkerchief
on a fiery broken heart
beneath the cold
moonlit satin water
down the frozen lake
terrifying monsters
gladly swim awake

Hear the cold and high
the loveless wind
unmercifully blows the stones
off the wall of the hills
far in the lonely field
hidden in a dark green
valley of oaks and vineyards
there the blackbird
no singing, and the wind is blown

Notice the cold cold and fiery arms
cold eyes of crying hard
far music from cold mermaids
cold sea, bright morning light
like a blade cuts the long day.

Kaos poem - for scientists

Kaos
Wir werden wissen. – David Hilbert

See? This foggy mess
dances around my neck
all the sounds from the wood
driving me mad
all these green and silver lights
silently making me blind

as a scientist
I'm supposed to keep track
of the monsters, humanize the ghosts
civilize into ideas
the wildest scents, the scary mermaid chants
into a theory, on the score

there is no survival
in the middle of hysterical flowers
among the colorful birds
in the smoke of herbal cigarettes
the freedom of wine and night
in the deep madness of love

It is a choice given
by terrible but compassionate gods
living above the misty eternity:
being eternal with the oceans
or calm peasants plowing
taming the lions, but not attached
to these small understandings.

Gracefully writing in the sand
but surrendering our books
to the white foam of waves.

Singing,
but playing as dolphins.
Princes in the monstrous
kingdom of blue.

Wednesday, April 04, 2007

Bilhete Para o Lado de Lá

Não te desvia
nem para ver flores
não vira tua cabeça
para ouvir a música
que alicia as crianças

Bebe teu café
enche tua garrafa
e calça teus sapatos
lá fora só há noite
e o dia é longo

Não sorri aos palhaços
nem senta nas trilhas
não desvia teus olhos
para ver como falam
os outros homens.

Lá fora tudo é breu
na rua o dia é longo
a turba se agita
e os ventos transitam.

Pai Nosso em Álgebra Associativa

Pai Nosso que, estando em todo lugar, em particular está no Céu: santificado seja, para todo k que pertence a N, Vosso k-ésimo nome. Seja feita Vossa n-ésima vontade para n em N, na Terra e analogamente no Céu. Considerai Di o conjunto dos dias terrenos da vida de um indivíduo fixo i, P o conjunto dos pães, que a função Φ: P→ Di seja sobrejetiva. Como fingimos perdoar a quem nos tenha ofendido qtp, perdoai isomorficamente nossas ofensas no lugar daqueles a quem ofendemos. Não nos deixeis cair em tentação e se M é a classe de equivalência dos males, seja que o conjunto Eid dos eventos em um dia d de um indivíduo i e M tenham interseção 0, já que ambos são anéis. De fato se m e n estão em M, m+n é a ocorrência de ambos os males em paralelo num mesmo disco de raio r,onde r é o fator de percepção da passagem do tempo, que é dependente de i. O produto é definido como a ocorrência em série destes males. É um exercício mostrar a comutatividade da soma e a asociatividade do produto. O elemento simétrico é um bem, pois é fácil ver que o conjunto dos bens está contido em M. Ver no Journal of Lollipops and Karamels num artigo em colaboração com X, vol y, pp k-t, que o elemento neutro de M pode ser identificado com o elemento neutro de Eid. Qed. Amén.

Indução

Indução ao Álcool

Para n0, vale o vinho.
Estamos feitos – redemoinho.
Tome k < n copos
teor crescente de álcool arisco
cerveja, aguardente e pisco.
Bebe mais uma taça de whisky ou licor
pêssego, laranja num copo de dor
Derrama nos k copos esse pronto horror
Pela hipótese de indução já és bêbado
Assim na n-ésima dose idólatra
prova-te alcoólatra.

Friday, March 30, 2007

tempo & tempo

É o tempo da vinha
É o tempo do silêncio
Guardem seus tesouros
e adormeçam nos braços
de seus amores.
É o tempo de estender a vela.
Trombetas de anjos impiedosos
ouço nas montanhas.
É o tempo das caças,
a hibernação finda.
É o tempo do verão
e dos barcos da Rainha.
É o tempo da vinha.

Saturday, March 10, 2007

Cosme Velho, poema de chegada

 Cosme Velho

Hoje amplo vento
Ontem um tormento.

Pão e leite que adormecem
quentes à nossa mesa.
No céu estrelas giram lentas
- e loucas, nadam em escuro.

Hoje, a selvagem calma.
Hoje, guargem seus tesouros
- pois o mundo é maligno.
Guardem seus tesouros
- há neblina e intriga.

Na rua, a divindade caminha.
No ar, pisa o pé bailarino
Na água, flutua o embrião
da ingenuidade e da solidão.

Guardem seus tesouros
e não se envergonhem de sua nudez
- pois eles se esconderam
e o anjo lhes apontou a saída do Éden
- nus e tristes.

Guardem seus tesouros
O anjo vingador está embaixo
na orla dos homens maus.
Não temam seus amores
Abençoados serão os puros
Eleitos serão os intolerantes.

- Guardem-se sob o céu negro
e estrelas entoarão seus mantras.
Sorvam apenas a última essência
o mais fino tanino
e adormeçam num silêncio
de altar e orem
em sonhos de gardênias nuas.

Wednesday, January 31, 2007

Os Elementos

1. Terra

mergulha o corpo
nos gomos da água
que, maduras, as flores
cantarão seus hinos agridoces.

2. Fogo

voam nos céus de janeiro
os pássaros da revolução
A cada manhã, um destino
A cada noite, uma canção

3. Água

estamos soltos no meio do Nada
e em caixas de chuva, giramos lentos.
Entretanto, os peixes no claro oceano
são as folhas soltas do pensamento.

4. Ar

os espíritos estão à volta
orações ouvidas no nevoeiro
Nada muda neste universo inteiro
pois bebo café no fresco janeiro.

Wednesday, January 03, 2007

Ipanema

Afinal, sou uma feiticeira
que produz poções fatais.
Mas duendes e flores brancas
que já não passam de espuma.

Tua presença nas folhas
de alegre deus no vento
não era mais do que
minha própria divindade
espraiada no mundo.
Eu mesma era quem dançava
nas gotas frescas de chuva.

Espuma, luz de crepúsculo,
cascas de nozes e taças vazias.
Pobre musa, que envelhece
e vira bruma...
Agora de teu corpo
quero apenas os de outros,
e outros frutos,
e sementes roxas
de romãs tensas de água.
Quero as tardes alheias.

Sou o perigo do Deus criador.
Sou Brahma que explode cogumelos
tingidos no meio do vale
e Shiva que pisa no vinho mortal.
Sou a dança destruidora.

Musa, te deixo na estrada.
Encontrarás quem te ame
os pés inchados e o ventre infame.
Só amo os belos.
Só amo os imortais.
Musa, da onda da minha paixão
és agora inerte e fria espuma.

Os Cem Dias

Após cem dias
vejo a luz
O círculo antártico
morre em anagramas
de gelo maligno.
Após cem dias
o cárcere se afasta
Cem dias passei inerte
no escuro solene
em agonia ardente
Cem dias revolvi
a grama seca
as cascas de nozes, vazias
Cem dias suguei
o leite triste e dúbio
das esferas desérticas.
Cem dias procurando
pelo caixeiro-viajante
e suas caixas de amoras
e uvas vermelhas.
Cem dias de uivos
Cem dias de brancura.
Após a longa expiação
surge a estrela
alta na manhã dourada.
Surge a primeira
razão alta na madrugada.
Após cem dias
estou livre
e eis o mar.