Thursday, July 09, 2009

Lanças


"A queda dos anjos rebeldes" - Bruegel, O Velho


Armas sacrossantas pela noite voaram.

Na manhã, corpos de ímpios estão banhados

pelo sol frágil do inverno e o ar é leve, de tristeza que se foi.

Apesar disso, há cheiro de sangue por toda a parte.

Anjos altos que são apenas asas postam-se nas esquinas

observando os restos de suas intervenções e o horror

escorrendo pelas faces dos hipócritas transeuntes

e dos jornaleiros apressados em espalhar as novas.



Os anjos postam-se imóveis e insensíveis aos prantos.

Seus finos olhos e suas gigantescas asas são vistas

por aqueles que ainda têm ousadia para olhar acima de suas sombras.



Lanças foram arremessadas com toda a força.

Vindas de todos os lados, aos furtivos, aos impuros,

aos falsos castos, aos donos do mundo que se protegiam

atrás de computadores e grandes estantes e mesas,

os anjos não quiseram compreender, saber e perdoar suas

infelizes humanidades escondidas nos copos de uísque e em cheques

falidos renegados pelo Banco Central, com herpes ou vícios sexuais.



Os anjos desferiram suas lanças no espaço

atravessaram carnes com espadas sibilantes. Não houve chamados.

Antes que estrelas pudessem intervir maternais

com suas piscadelas, frescores prateados,

um grande massacre incompreensível havia sido executado.



Os anjos não perdoam a humanidade.

A humanidade é o que recebe seus golpes laminados.



Os anjos estão nas ruas, brancos, gelados, sombrios

seus olhos enormes sem pupilas, suas asas, impassíveis,

impiedosos e insensíveis a orações, mas alertas.

Suas lanças e espadas descansam ao lado de suas presenças

para as quais nem as crianças ousam olhar.

Os homens sujos ou apenas indignos, líderes

de terríveis bandos de lobos, caíram numa noite.

Todos sucumbiram na lama pelas lanças dos anjos enormes.



As legiões vieram trazer suas justiças enlouquecedoras.

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