Saturday, July 18, 2009

Predadores





Manhã. Eu dentro da tarde, e adentro a noite.

Você deveria ter vergonha, deveria se enxergar e crescer.
Qua diabo de amizade ridícula, que pensa que diz?
- Assim desperto no ninho de abutres, dando-lhes senhas.

De fato você só quer me observar os hábitos
como se observa um animal de pelagem estranha em seu habitat.
Você só quer notar os peculiares modos e os conhecimentos extraordinários
e depois repetirá a todos, e me exibirá neste teu zoológico,
com esgares e altas risadas, exibirá seu prêmio por agir como um rato
espiando na penumbra dos meus sorrisos e dos meus lamentos,
virá mostrar pornograficamente meus zelos a mim,
rindo por se achar tão esperto e ser capaz de finalmente me dar uma lição.


O que você aprendeu ontem eu sei desde nascida.
O que vem me mostrar com este discurso e palavrórios
não passa de brinquedos, de grandes descobertas e certezas de iniciantes.


Nada pode ser mais triste.
Você só vem a mim na minha paz para competir
e eu que havia esquecido da bela solidão,
da eternidade que repousa nela, viciei-me na companhia dos sórdidos.
Agora preciso sacar a espada constantemente
e não há mais lugar para a música e os passos de dança.
A todo momento minahs mãos estão sobre o cabo da espada.


Cansaço e desprezo são produtos da convivência.
Nunca houve um leito para a amizade e a irmandade emocionadas.
Vocês vêm a mim como ratos, tramando e falando, suas vozes e guinchos
perturbam o próprio equilíbrio dos sons e das notas.
Vêm a mim sempre competindo e esmiuçando e cavando buracos
e quebrando os vasos, sujando o chão, desfazendo a disposção dos véus.


Desapareçam, ou terei que disparar meu arco sobre seus ventres
para que jamais tenham a ousadia de caminhar sobre minha terra novamente.

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