Saturday, December 27, 2008
Aria Nova
Vou-me nas trilhas
Ando entre pedras
O perfume que a chuva
trouxe é de jasmins - eu sei
E destas flores brancas
coroas de anjos fiz
para a Novidade
o ninho da beleza
a casa em que habita
a felicidade em anil e prata
São castelos virgens
de luzes caídas de Escorpião
e Sagitário e Áries
são espadas anciãs
e trompas perdidas
nas estradas cegas
É a Novidade, na rua
na chuva e na estrada
na curva que dá para o Rio
no beco que dá para o Mar
Chuva, e estrela, cânticos
Canto o que há dentro do que haverá
E ânsias estelares pulsam
não como sóis jovens, mas como corpos celestes
poderosos há muitas distâncias de tempo
dentro do futuro imerso no passado.
Monday, December 22, 2008
Celebração
Vista do pôr-do-sol nas pedras do Arpoador.
Onde estão as vozes que eu ouvia?
Os espíritos que me guiavam, dos quais reclamava
Agora espeor ardente por cada um deles
loucos louros anjos com armas de crianças e flautas.
A uva Merlot na minha taça
O carrossel na minha cabeça
A coroa partida nos meus cabelos
A luz que quer ir embora da Madrugada
A festa eterna está presente neste farol
Estes unicórnios mudos à minha janela
As bocas das estrelas cantando trítonos
As asas dos caídos voejando nas sombras
A festa que me chama, como entro?
O vinho de frutas que mãos divinas colheram
desce à minha garganta, e qual o rei amaldiçoado
no mundo dos mortos, o Tântalo tristonho
procuro a seiva das horas mas verto-a incólume
E vêm lá os saltimbancos
Vêm lá os percussionistas
e as floristas e os cantores
Eles estiveram sempre aqui
Como eu não os vi?
Onde se esconderam?
Wednesday, December 10, 2008
Colecionando eventos
1. O casulo
Uma borboleta saiu da crisálida
e pousou nas folhas de maria-sem-vergonha.
Ela era aleijada, tinha uma asa menor do que a outra.
Apiedada, molhei meu dedo e pus açúcar na ponta
a borboleta então esticou lentamente a tromba
ainda não usada e lambeu o doce.
Não obstante, duas horas depois estava morta.
Pobre borboleta, virgem abandonada pela mãe Natureza.
2. O vôo
Uma pomba voou livre nos céus
mas veio de encontro ao vidro de um prédio
e caiu aos meus pés, moribunda
caiu numa terrível e fria linha reta
do vôo cego contra o vidro.
A quem culpar? Fatalidade
é um espasmo na pele do Universo.
Sunday, November 30, 2008
Chamado
Abre o teu coração
para os olhares e suspiros do Universo que,
astuto, prepara a mesa, e a barca que te levará
se quiseres, até a beira da vida, até a roseira do mundo
até o poço de açoitamento de deuses
onde verás o sangue dos divinos jorrando
onde sentirás o perfume de mil acácias mortais e belas
Não fujas! Canta comigo e lança teus braços
o mar proclama, o amor reclama
os beijos de colombinas e valetes e outros saltimbancos
Não foge, ama-me, nada tens a perder.
Abre teu coração, teus olhos, teu corpo
ao suspiro imenso que a noite inventa
à luz desejada da manhã, dança comigo à tarde
e adormece à noite em meus braços fatigados
e ressona meu poema, com a cabeça sobre ele.
Saturday, November 22, 2008
Oração, ervas
"Les Saltimbanques Dans la Nuit", M. Chagall
A pedra.
Recorda-te:
a única árvore que não morrerá.
A tarde é azul
e a memória dança entre as folhas.
O templo.
Recorda-te e respira:
a luz dourada que repousa
transborda e mendiga.
O espaço é simetricamente
sobrenatural.
A estrada de terra.
Recorda-te, vive:
guarda no cantil, na mala
as maçãs da viagem
e as canções do crepúsculo.
A noite.
Em poucos minutos
a luz dissolveu-se nas paredes
e o céu amoroso e triste
como uma velha atriz
que fuma no camarim – e sorri.
O templo.
Recorda-te:
o amplo círculo do dia
gira e nunca teme.
O porvir carrega morcegos
e não teme a morte.
Recorda-te,
tira os sapatos.
Little Girl Mourning Shine
while the white cat
was falling asleep
the little sad song
began to crawl on the street
when the dragonfly
swept away in the wind
in the blink of an eye
little girl started to cry
in the meantime of two jokes
when two clouds dreamt away
I felt so lonesome in a sudden
quick move of two jacks of spade.
Tuesday, November 18, 2008
Quarteto para o Fim dos Tempos
"Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse", A. Dürer
Para o abismo deslizamos todos lentos.
Entre nós, um licor viscoso amargo
Ódio e esqueletos de devorados pássaros
O desprezo que nos arrasta muito largo.
Para o sepulcro a torrente leva todos,
as crianças mórbidas, os monstros podres vivos
de ignorância e as baratas que espreitam.
Os leões fogem empalidecidos.
Ah quanto se perde! Quantas horas
Quanto vazio entre sangue e espadas
Tanto desfazer, tanta água em torno
da barca sozinha entre harpias aladas.
Entre restos de carantonhas vazias no tempo
de desafeto e armaduras no longo desalento
Decompõe-se a lápis esgares e mãos partidas
enquanto nascem crianças tortas desvalidas.
Friday, November 14, 2008
Bourgogne
para vocês-sabem-quem
Somente no bojo largo
da taça da noite
é que explode
o seu delgado buquê
Nem grande tanino,
nem minerais nem terra.
Você é alternadamente
ácido e tânico
e só no largo útero da noite
é que revela seus reflexos
rubi-alaranjados
e suas tonalidades harmônicas
mas também as dissonâncias
que espreitam tímidas
nos olhos negros nos cabelos
no seu corpo e no corpo da noite.
A noite é seu trono de ambrosias
e pães ricos, águas azuis, grãos macios
E é seu reinado de venenos anidros
A noite é o bojo largo
em que explodem os seus aromas
Minhas sensações enlouquecidas
esperam impacientes a total libertação
das novas flores, dos frutos amargos,
dos doces escondidos
por trás da tua ampla presença
na boca, no olfato, nos ouvidos
do meu corpo ensandecido
de rica e floral degustação
No grande seio da taça da noite
é que mostras o teu leque
de um definido e jovem buquê.
Sunday, November 09, 2008
A Grande Música
canto a constância dos ciclones
não ouvir música traz a sobriedade
Aquele maldito russo com seu piano assombrado
de mares negros e árvores mortas
implanta em meus olhos a floresta ampla
que alastra os vales dos teus olhos
canto a constância dos ciclones
não ouvir música traz a serenidade
Alaga os quartos este trio elegíaco
onde habita um violino que já se dissolve
na persistência do desejo sobre a matéria
canto a constância dos ciclones
não ouvir música traz a saciedade
Uma doente travestida sob uma camisola antiga
espalha esgares descomedidos no corredor
buscando no som dos braços que rasgam o ar
um padrão que fixe em madeira e aço
todos os sorrisos, os movimentos, os ecos de tua presença
canto a constância dos ciclones
não ouvir música traz a senilidade
Agora me rendo à ferocidade da vontade
Agora me rendo ao perfume espectral de flores tirânicas
Entrego-me à doçura desesperada dos sentidos
Arderei na sagração do tanino de um beijo mantido
no tonel construído por um luthier envelhecido
canto a constância dos ciclones
não ouvir música é possuir a sanidade.
Friday, November 07, 2008
Eu te amo
Acho que estou doente. Algo dos pulmões.
E no coração só uma sensação de abrasamento
como se estivessem a marcar com ferro quente
por toda a extensão do miocárdio.
É preciso toda a memória para resolver em palavras
as querelas quando se bebeu meia garrafa de vinho.
Amor é tão lugar comum, diz uma canção
e sento-me de madrugada entre morcegos
para chorar pesadelos e lamentar ânsias de vazios futuros.
Nada se sabe e ninguém sabe, os ouvidos e as narinas entupidos.
Mas os perfumes e as echarpes que uso são divinos
e isso basta para receber olhares de admiração.
Ao fim da noite entretanto, soluço, e asfixio, poções de bruxas.
Sinto teus cabelos entre minhas mãos, e lembro-me de campos
de ervas suaves, e crianças e gatos, e penso em mim chorando.
E choro. Atriz, ou pitonisa.
Mas será isto amor, ou teatro, ou auto-compadecimento?
Inteligente e refinada demais para o lamento público
mas sensível e ultra-romântica, patética, para a urbe que assoma
pelas letras e elétrons através da janela.
Canto e sou triste em minha alegria, e prefiro
dez ferrões de abelhas e dentes de serpentes inesperadas
que sobrevêm ao teu beijo, à morbidez do engano,
da subcultura e do mal-gosto que suportei antes de ontem.
Prefiro a guilhotina, dou-me o pescoço, os seios e a mente
à lâmina última e altiva, mas recuso a nuvem de calor do meio-dia.
Confesso, e sofro, mas não peço esmolas.
En passant
Thursday, November 06, 2008
Felipe
Um Éden sem Deus
é a casa em que habita
o Adão sem maçã nem pecado
nem história, nem anjo Gabriel.
Não adianta – ainda tens um poema
um poema a mais
após a eclosão do fim.
O vinho sobre a mesa
harmoniza-se sob a luz
lunar espalhada pelos cantos.
Mesmo triste, o vinho
é harmonia com teu corpo.
Outros tentarão tirá-lo de ti
Outros tentarão imitá-lo.
És música – perfume afora
verde-escuro, e rosa, floresta.
O Jardim do Éden sem Deus
e os cantos do outono à capela.
És, Felipe, o anjo sem oração,
sem asas, sem perdão.
Sunday, November 02, 2008
Cantilena de Amor no Escuro
"Maria Madalena", Georges De La Tour
Acabou-se a luz
Da lâmpada elétrica
Escrevi patética
Uma ilha de luz.
Compondo no escuro
Cegueira e grafite
Desenhei no sulfite
Teus olhos de escuro.
Envolvida em breu
Núcleo quente da vela
Cultivo com ela
Teus cabelos de breu.
No espaço sem fim
A ilha dourada
Ampara a esplanada
De saudade sem fim.
De dentro do escuro
Palpita o pardal quente
Do desejo urgente
De vôo no escuro.
Thursday, October 30, 2008
Matadouro
P. Picasso, "Minotauro"
Ando displicente.
Estas minhas cantigas estão decadentes
mas dos teus braços tomo o manto
do torpor e quedo entre orquídeas.
Anjos malignos sopraram em meus ouvidos
uma solução bruta mas conveniente:
com esta caneta te imolo sem compaixão
despejo tua beleza repartida a faca
em meu poema, e te ofereço a
deuses exigentes.
No altar destes versos te sacrifico
e rezo sobre o sonho dos teus olhos escuros.
Monday, October 27, 2008
Batalha de Escorpiões
"Orchid", de R. Mapplethorpe
Já não sei o que fazer
com este pavor
Não sei o que fazer
deste calor
Onde pôr
estas flores vermelhas
Não sei como ouvir
essa música de bruxas
que desperta leões
na madrugada.
E o demônio que dança
às gargalhadas
Que fazer deste estupor?
Como calar estes tons
que perpetram asas escuras
nos lençóis que balançam
nos varais virgens?
O anjo me tortura
dia e noite
com olhos escurecidos
de taninos e aladas
foices de prata.
O anjo me retém
sob o escudo sangrento
de seu terror
de rosas e cantos.
Está declarada
a batalha no deserto
e em alto-mar.
Estou a postos.
Friday, October 24, 2008
Sphinx
Para FP
Houve a noite da esfinge.
A esfinge reina soberana
e meu coração impaciente
voa aflito com aflições
de pombo desértico
Eu, criança, diante da porta
Do corpo da esfinge soberana.
Na boca da esfinge
O lagarto colheu dardos
De doces intumescências
No repentino verão
De noturnas florescências.
A esfinge sorri na areia.
Tempestades estrangeiras
Trouxeram os olores
Transparentes ervas úmidas
Com a bela silhueta escura
Da esfinge marinha.
Na noite da esfinge
Eu, nômade, bebi de anis
Em cálice tomado de dores
Risonhas e chuvas frescas.
A esfinge, bela na noite,
Reina soberana na areia.
O instrumento do demônio
Canta na garganta de cerejas amargas.
A esfinge reina soberana.
Sunday, October 19, 2008
Ars Erotica
“Amo a floresta. Ruim é a vida nas cidades: há ali demasiados libidinosos.”
Nietzsche
I.Ciganos e suas rabecas
O amor expande violeta
a íris da consciência.
É o que dizem.
Cada um é só
com o corpo embargado de espírito.
Cada um é sozinho.
A imensa ânsia
para o que não habita em si
O eterno andarilho
Adormeço sob As Três Marias
Adormeço um pouco em ti.
II.Ressona a Grande Explosão
Sorrio de graça e em minha taça
descansa a roxa solidão de meu amor
Acredito na música que ressoa ao fundo
do mundo e desta poeira
Acredito na sinfonia que reverbera
por trás da dança das varejeiras
Quando acabar-se o mundo
Após uma explosão fraternal
Ranger de gritos apavorados
será possível ouvir gigante
um concerto para piano
mozartiano
III.Lascívia
Canto com as cigarras
Canto um pouco em ti.
Acariciar asas violetas se possível;
cantar o que não está perto.
Na brisa gélida que treme as últimas folhas
das mortas árvores de abril
dança uma valsa a bela Incerteza
Nenhuma flor marca meu jazigo
Meu espectro é dignamente pobre, e vive exonerado
exilado nos píncaros brancos
do desejo que lhe estica a alma
como a um manto de linho antigo.
O amor é uma libélula infernal
Asas; e que deixam rastros na água.
IV.Divertimento
Os deuses banham-se
em jardins de begônias
e, vê, as serpentes dependuradas
nas amoreiras emaranhadas
traçam na tepidez da primavera
mórbidas grades de galhos
cálidas ao olhar das feras
os deuses banham-se
em jardins de begônias
Num compasso crescendo
águas azuis no momento
em que um satírico vento
revolve as lupercais
dos teus olhos abissais.
Preenchem o escuro Vale das Máquinas
patéticas eletrificadas, gás, carvão e hulha
sublime kyrie disperso na poeira
flutuante espaço tenso em ostinato
doura os céus dos acontecimentos
um minuto antes de um divertimento
que ressoa para teus verdes sorrisos na rua
os quais contêm todos os sorrisos da lua
Tuesday, October 14, 2008
Poema do Escuro
Cheguei a pensar que não iria mais te escrever poemas nem coisas afins belas.
Porque pensava-me velha, pensava-me finda no círculo da hora na barca que dança,
fechada numa decisão de guirlandas carnívoras, e bastava-me a escravidão
da idéia, da mesma frase, da mesma ofensa, da mesma nagação da liberdade
mas agora na noite a erva e lua, a estrela a água se fazem senhoras
e nenhuma circunstância roubará teu corpo e a amálgama da essência de você.
Porque em nenhures estarei e não sinto a solidão, pois moro com a Lua
e durmo com o deus mais altivo e tenso de todos, o Sol
e o céu inteiro é minha casa, e você, música, minha porteira
E tua boca, topázio marinho no portão de entrada para o mundo
e neles habito... habito nos ares com as gaivotas e falcões
intimamente em grandes envergaduras.
Busco a estrela, e bebo a alvorada, e lá está, esse homem que se senta esguio
na última laje, no ducentésimo galho de jasmineiras -- alías orquídeas
Que te adoro rico em cores, que te quero desenhado em rosas e vermelhos e azuis
que te quero selvagem da masculinidade típica dos céus de outubro
e das peças magníficas para sopros e metal... com entradas particulares para as cordas.
Homem, nascemos para isso, para isso crescemos, para o cântico... alvoradas
luzes turvas da madrugada, e vinhos escuros, tons anis, desejos fulvos.
E caio num ninho de suaves lilases, que são lembranças de lábios e noites unidas em mi bemol.
Friday, October 10, 2008
Sunday, October 05, 2008
Gosto de vinho.
Saturday, October 04, 2008
Gosto de... continuação.
Friday, October 03, 2008
Uma daquelas listas de coisas de que gostamos.
Só para começar, as coisas mais óbvias. Muitas são clichês, mas fazer o quê? É que nem sexo, universalmente apreciado. Clichê dos bons.
Prometo escrever coisas mais sutis da próxima vez... sim, essa listinha continua.
Gosto de:
1. A letra csi do alfabeto grego. Tenho numa postagem antiga deste blog uma série de fotos de csis, para quem não lembra ou não sabe qual é. Aliás, especializei-me em desenhá-la. Merecia já um vale-doutorado só por ter aprendido a escrever direito, quando nos institutos de matemática há essa legião de professores e bons matemáticos quase que totalmente incapazes de escrevê-la, mesmo sendo tão requisitada.
2. Taças de vinho atrás de velas acesas, com bojo largo, de forma que possam refletir sutilmente, na sua convexidade elegante, a luz da chama.
3. Gatos.
4. Cheiro de livros bem novos e de livros bem velhos.
5. Tardes em que o vento é intenso porque choverá em breve.
6. Pedras redondas submersas em água cristalina.
7. A hora 11:11.
8. A poesia de Gabriela Mistral.
9. O cheiro de pão quente e a voz da mãe cantando de manhã enquanto faz café.
10. A sensação de pés descalços sobre a grama molhada de manhã cedo.
11. Ficar silenciosa numa mesa em que todas as pessoas conversam e fazem balbúrdia alegremente, deixando fluir através do corpo, como se não estivesse ali, como se já tivesse morrido, a enervação dos pensamentos e o calor da vida humana.
12. A cor lilás.
13. Árvores jasmineiras quando chove.
14. Caminhos, estradas, principalmente de madrugada. Olhar para o céu de dentro da janela do carro, ônibus, o que for, e ver o escuro salpicado da Via Láctea cedendo gentilmente a vez para uma ainda ingênua luz debutante.
15. Beijar a boca daquele por quem se está apaixonada tendo bebido água, e ele, vinho.
16. Lençóis e véus.
17. Mãos de pessoas idosas.
18. O espaço vazio e silencioso entre as estantes de alguma grande e rica biblioteca. fechar os olhos e respirar nesse momento, parada entre os livros.
19. Barcos.
20. Janelas.
Wednesday, October 01, 2008
The Lark Ascending - Again
He drops the silver chain of sound,
Of many links without a break,
In chirrup, whistle, slur and shake.
For singing 'til his heaven fills,
'Tis love of earth that he instils,
And ever winging up and up,
Our valley is his golden cup,
And he the wine which overflows
To lift us with him as he goes
'Til lost on his aerial rings
In light, and then the fancy sings."
Excerto do poema de George Meredith que V. Williams ressaltou no início da partitura da belíssima peça homônima, sem o "again".
DICA: ouvir a gravação de Nigel Kennedy com a Royal Philarmonic Orchestra, sob regência de Simon Rattle.
Monday, September 29, 2008
Joni fala e eu falo
Thursday, September 18, 2008
Eterno Retorno
para FP
E lá vem de novo o pássaro cambaleante
Nos meus pesadelos eróticos sublimes anímicos
Matemáticos sangüíneos marinhos perdidos
Música pra meus pulmões, lá vem você
Para me arrepiar na noite das bruxas entre árvores
Para me lembrar de que mentir é arma de crianças
Lá vem o marinheiro, lá vem a canção
Lá vem o barco nas sombras, lá vem o lobo da madrugada
Lá vem o desejo que me diz à nuca: "nunca -
- Mas aqui estou, e me amas.
E tens o mal gosto de mal citar o pobre Nietzsche,
enquanto me expões teus seios em sofrimento."
Monday, September 01, 2008
Sunday, August 24, 2008
A Noite - Ciranda
Se é de tormento, encolhemos no leito
e imploramos pelo licor do amor.
Se é insone, estamos alertas e vive o pesadelo.
Se é silêncio novamente, desce o fluxo do rio
fresco sob as flores noite adentro.
Friday, July 11, 2008
The Most Valuable Thing
Sunday, June 08, 2008
Os Pássaros e Truffaut
Abrimos as janelas e os azuis revoam.
A cidade está agora embriagada em calmo frio
Num abraço sinto teu coração sobressaltado
de névoa cintilante qua as gaivotas deixam para trás.
Sonho que toco tuas mãos e as penas das aves
entre folhas de árvores espargem luzes ao Tempo.
E o Sol num instante acorda e toma seu cetro,
e desperta teu olhar que em tímido verde-escuro
passeia e percebe o silencioso movimento
de cenas e nossos amores desenhados em nanquim
Estes caminham pela sala, sentam-se e põem flores
nos vasos.
A cidade está imersa em seus desdéns.
Nós nos perdemos do Tempo, e isso nos dá direito
ao canto
como aos poetas cegos de outrora
era dada uma nova e profunda visão.
O céu nos responde com uma cantiga ao piano
que ingenuamente reverbera no azul, pálido
e este mar é somente meu e teu, os tolos se
esconderam.
As cenas, a corrida na ponte, o chalé no vale,
o turbilhão da vida, diante deles nos rimos
mas temo o Tempo por um instante, que temeroso
de nossa displiscência, nos tome e nos devore
como seus legítimos filhos, que ameaçam seu trono.
O tempo detesta as crianças, o Bastardo.
Eu te abraço e teu calor me conta
a história de um filme e bicicletas
e de crianças que também reinventam
seus amores e libertam pássaros
nas manhãs sem sol debruçados sobre o mar.
Lullaby, by W. H. Auden
Lay your sleeping head, my love,
Human on my faithless arm;
Time and fevers burn away
Individual beauty from
Thoughtful children, and the grave
Proves the child ephemeral:
But in my arms till break of day
Let the living creature lie,
Mortal, guilty, but to me
The entirely beautiful.
Soul and body have no bounds:
To lovers as they lie upon
Her tolerant enchanted slope
In their ordinary swoon,
Grave the vision Venus sends
Of supernatural sympathy,
Universal love and hope;
While an abstract insight wakes
Among the glaciers and the rocks
The hermit's carnal ecstasy.
Certainty, fidelity
On the stroke of midnight pass
Like vibrations of a bell
And fashionable madmen raise
Their pedantic boring cry:
Every farthing of the cost,
All the dreaded cards foretell,
Shall be paid, but from this night
Not a whisper, not a thought,
Not a kiss nor look be lost.
Beauty, midnight, vision dies:
Let the winds of dawn that blow
Softly round your dreaming head
Such a day of welcome show
Eye and knocking heart may bless,
Find our mortal world enough;
Noons of dryness find you fed
By the involuntary powers,
Nights of insult let you pass
Watched by every human love.
Thursday, May 08, 2008
Poema circunstancial
Olhei em meus papéis em baús e guardados
sem importância, sem cuidados especiais,
e percebi que tenho negligenciado os símbolos
das coisas que passam como fantasmas suaves
entre árvores, com claras vestes e mantas,
com olhos semicerrados e sorrisos contidos.
Mas hoje não, hoje cuidarei deles
porque você me inspira, estendendo às minhas mãos
a taça com água límpida e pedras verdes no fundo do vidro.
Nos olhos uma ternura que sempre esteve na roda de ciranda
que estava na janela semi-aberta, no vaso de crisântemos
na lâmpada queimada, na xícara de cerâmica, no algodão da roupa.
Aquieto-me e olho teu rosto na meia-luz. Não estranho o verde
nem o perfil de quem me esperava no cais, desde que parti
não lembro mais quando. Há muitos anos, parece-me.
Nesse silêncio não procuro os caminhos mais complicados
como era de se esperar de alguém cujo coração
teme sua própria crosta vermelha e seus músculos brutos.
Fica aqui em meu colo o arranjo de plantas amorosas.
Fica também o adormecimento que sorri nos barcos de quem pesca
numa tarde como essa, num lago entre montes verdes, e dormita
e pesca e dormita e cantarola, e aspira e vê libélulas
que põem seus ovos sobre a face limpa da água violeta, e que se vão
antes que eu tenha tempo de edificar um pensamento sóbrio
para ordenar não no tempo, mas num espaço próprio, olhos, boca,
perfume, palavras, presença, sonhos instantâneos.
A lagoa e as libélulas, o perfume e o pequenos cantos entre lábios.
É esta a voz que me traz um sonho que tive em menina
e do qual lembro-me agora que as libélulas dançam no espelho.
Tuesday, April 29, 2008
H.D. Thoreau
Sunday, April 27, 2008
O mundo é grande
Monday, April 14, 2008
Exit Music - Brad Mehldau Trio
Poema para o Fim de Um Filme
No breu enquadrado dizem adeus
o amor, os cantos, os carros,
Passamos e adormeceremos.
Desperta estarei para ver todos
os que acenam do cais para mim
E eu lhes acenarei
Até que a morte nos separe.
Thursday, April 10, 2008
As Ninfas
Mas entrar por um momento no reino que me é destinado
por natureza e adequação, o feminino branco e rosado
Atender à graciosa sinuosidade, à reservada afetação
ao gesto nu e musical que perfuma o espaço
com véus e cores suaves, e vozes moduladas
Queria pisar com os pés finos na relva fresca
do eterno desapego e dos sorrisos infantis
levemente tocado por uma divina sensualidade altiva
e livre, cantando os poemas mais arredios e colhendo flores
mal falando, apenas para libertar a verdade
de nossos corpos com canções inauditas.
Como as dançarinas de art-nouveau
e a bela Salomé, apaixonada e lancinante
ter razão sem precisar inclinar-me à vulgar
e masculina argumentação, ao palavrório
sem recorrer à Lei, à Lógica adolescente
à Ordem dos Sacerdotes descrentes, os homens
e seu eterno reino de sons bárbaros e gargalhadas atrozes
e negociatas e certezas de segunda classe
Um mundo emprestado de nós mesmos.
A fonte é fina e fria
O regato nos espera
As flores recurvam-se ao vento
Os sorrisos silenciosos no vento
O pão da eternidade sob
as cores e sabores das teias
de arte, volúpia e oração.
Wednesday, April 02, 2008
Musgo
Tempo que adormeceu nas pedras no alto da montanha
que olha para baixo anuviada, cheia de tédio
como se houvesse bebido Martini seco
O tempo é uma harmonia fundamental que se soergue
somente vez por outra quando as aves despertam
e as cigarras anunciam a vinda do calor sobre o rio.
O tempo não tem ganas
O tempo lê, compõe a canta.
As pedras em seus leitos amanhecem e morrem
O silêncio das gargantas e dos córregos dentro das grutas
As flores inevitáveis pelos caminhos
Aos sobreviventes, à sinfonia dos entes nos bosques úmidos
que espalham seus ramos e as praias que cedem femininas
às súplicas do eterno oceano
Uma cantiga de ninar.
Aristocracia legítima a dos salgueiros, ipês, mangueiras
a dos insetos, dos seres brutos que nascem e soçobram
na antiga morada, o deserto tomado por reis
famintos, reis inocentes
O deserto, a terra inteira de flores, amarílis, rosas, petúnias
e malignas orquídeas, bruxas inertes, e seus príncipes
acorrentados, os beija-flores furta-cor.
O gato se deita onde é barão
O pássaro perscruta onde é delfim
O rio avança onde é soberano.
A Visão
deitei-me e olhei para a escada
No nível da terra
é que se enxerga o mundo
o mundaréu como ele é
Como uma ave migratória
flutuei bem alto, e alto
nos céus das andorinhas doidas
é que enxerguei o mundaréu de doidos
e fogo, água e fumaça
De pé no chão não se enxerga
coisa alguma que valha pois
a vista fica embaçada pela névoa suja
Como um gato espreitei
a verde grama tão perfumada
Como abutre contemplei
de cima os cemitérios humanos
Só os sons guardei comigo
nas alturas fechei os sons da terra
no meu coração que entorna saudade
Grudada ao chão pus o ouvido
no seio do mundo e auscultei os trabalhos
no ventre do esquecimento.
Tuesday, April 01, 2008
Sunday, March 30, 2008
Pôr-do-sol eterno
O sol de fato nunca se põe. Pode-se viver constantemente sob crepúsculos. Ah, bela vida a do crepúsculo. Assim deve ser a vida após a morte. Ela existe, e é um constante viver arrebóis.
Friday, March 28, 2008
Silence
(Thomas Hood)
There is a silence where hath been no sound,
There is a silence where no sound may be,
In the cold grave--under the deep, deep, sea,
Or in wide desert where no life is found,
Which hath been mute, and still must sleep profound;
No voice is hushed--no life treads silently,
But clouds and cloudy shadows wander free,
That never spoke, over the idle ground:
But in green ruins, in the desolate walls
Of antique palaces, where Man hath been,
Though the dun fox, or wild hyena, calls,
And owls, that flit continually between,
Shriek to the echo, and the low winds moan,
There the true Silence is, self-conscious and alone.
Convento
de acalentar orações e cânticos
bebo licores de uva escondida
da Madre Superiora.
Nesta pobreza eremita
na pedra esquecida
aqueço na pequena bolsa de pano
os sons daquele que, escondida, amo.
Nos jardins noturnos
atrás do muro exterior
me posto em febre a ouvir
escondida, as cadenzas e grilos sob a lua.
Durante os rosários de mil dias
teço suspiros, escondida, em agonia
aos teus cabelos e olhos cheios de luz
mas a Madre pensa que é para o Menino Jesus.
Sunday, March 16, 2008
Mario Quintana - O Tempo
Nele mora o Tempo. O Tempo não pode viver sem nós,
[para não parar.
E todas as manhãs nos chama freneticamente como um velho
[paralítico a tocar a campainha atroz.
Nós
é que vamos empurrando, dia a dia, sua cadeira de rodas.
Nós, os seus escravos.
Só os poetas
os amantes
os bêbados
podem fugir
por instantes
ao Velho... Mas que raiva impotente dá no Velho
quando encontra crianças a brincar de roda
e não há outro jeito senão desviar delas a sua cadeira de rodas!
Porque elas, simplesmente, o ignoram...
Saturday, March 01, 2008
Pássaro que Fica ou Vai
Pássaro que fica ou vai
A dança permanece
Nos teus braços imaginários adormeço
sob asas delgadas eu esqueço
Você eu amarei sempre. A cada manhã
que as lâmpadas dos postes se apagarem
a cada entardecer em que as cigarras cantem
Não fujo, minha sina é ouvir teu solitário lamento
O som do riacho é a eternidade.
Sonhar teus cabelos minha canção.
A ave levanta seu vôo na verde escuridão
e deixa ilesas as nuvens apaixonadas.
Antes a morte levará minhas lembranças
e a velhice tomará do meu corpo a tensão do amor
mas isso nada leva embora, a poesia e a música
que tuas finas mãos lançaram a mim
como um falso casto véu púrpura perfumado de estupor.
Friday, February 29, 2008
Poema do Entendimento
Para se fazer musicista
precisa-se de grande intimidade
com o silêncio, a vasta tundra
o morno campo à beira-rio
Para se compreender as formas
e comerciar com as profusões
é indispensável estarmos atentos
à envoltória de silêncio
que veste qual cetim todo o entendimento
Uma placenta de miríades perfumadas
Uma galáxia de curvas e fenômenos
Um coquetel nauseante de sons e partituras
Para serem maternalmente contidos
no seio da silenciosa atitude
que curva levemente a espinha dorsal
japonesa, fina e lúcida como estudos
com lápis e um piano na noite embargada de anis.
Sunday, February 24, 2008
Poema de Cecilia Meireles
"Não fales as palavras dos homens.
Palavras com vida humana.
Que nascem, que crescem, que morrem.
Faze a tua palavra perfeita.
Dize somente coisas eternas.
Vive em todos os tempos
Pela tua voz.
Sê o que o ouvido nunca esquece.
Repete-te para sempre.
Em todos os corações.
em todos os mundos."
Sunday, February 17, 2008
O Balão Amarelo
no ar rosado do verão cansado
veio da grande mansão ao lado
onde os ricos abrem seus vinhos
borbulhantes rosés frescos
de tanta maravilha de vida
cheios de luz liberada nas bolhinhas
veio um balão dourado
caindo do céu pálido
na tarde antiga veio
Veio como um dom perdido
Do excesso que engorda os ricos
Os tesouros e alegrias aprisionadas
na muralha da mansão, as alegrias
incham o corpo, infelicidades
Os pobres canonizam a canção
e o ar que preenche o balão
O desejo é um esqueleto
que dança vago na sombra da plenitude
Veio um balão amarelo queimado
por sobre o grande muro da mansão rosé
Veio chateado da vida, enfarado da alegria
Veio sem desejo, indiferente à morte
Veio e caiu no pátio vermelho
Não há criança negrinha para tocá-lo
Quanta infelicidade entediada
infla o balão cheio de gás etílico
Friday, February 15, 2008
Vôo
Núcleo
Há a obscenidade no mundo
Que todos vêem, mas ninguém aponta
pois todos temem o Grande Desejo
O Grande Amor que destruirá todos os telhados
Ninguém grita à polícia, ninguém chama a Defesa Civil
para conter os braços da grande obscenidade
estrelada, escarlate, carnívora de almas pueris
A obscenidade tão inocente que deve-se esconder a face
diante dela, para que ela não se envergonhe e não core.
A obscenidade que deu à luz ao céu e canta inúmera.
Sunday, February 10, 2008
Poema para Chet
De uma série: Madrugada
Não durmo.
Não lamento.
Estou só e vou morrer.
Estou nua a correr
na neve, na chuva
na lama, no breu.
Não durmo,
não vigio as entradas
entram insetos que gritam
entrevoam luzes de pássaros
que já morreram.
Também vêm com o vento
da janela generosa
flores e perfumes
e gemidos de amor
e cantigas de mães.
Não durmo
e não falo
pois há que ser religioso
com as coisas da madrugada.
Thursday, February 07, 2008
Lou Salomé e Rilke
"Ouse, ouse... ouse tudo!!
Não tenha necessidade de nada!
Não tente adequar sua vida a modelos,
nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém.
Acredite: a vida lhe dará poucos presentes.
Se você quer uma vida, aprenda ... a roubá-la!
Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer.
Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso:
algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!!"
Lou Salomé
"Vem!
Vamos profanar os templos
Onde se venera o medo
Para esculpir em nós
O monumento do amor
E uma escada ao Paraíso
Vamos voar nos sonhos
E zombar dos terrores
E delirar no deleite
Da unidade"
Rainer Maria Rilke
Thursday, January 31, 2008
Nuvem
Não o frio que olha através do cais triste para o horizonte
Não o frio do farol na ponta do rio contra o oceano
Mas sim o frio do frescor de quem chega e não parte mais
O vento que traz água de mares solitários
Para abrandar a violência de muitos calores preocupantes
Desejaria ter esta chance, e não ter que agradar a ninguém
Não precisar dizer as horas nem fazer provas para que professores
me recompensem com sorrisos de confiança
-- pois não quero que confiem em mim
Esqueçam-me, deixem-me entregue ao vinho e à guitarra
que alguém toca em outro apartamento
Para que tantas posições, tantos cargos, tantos números
Não há diferença entre dez e um bilhão
Uma estrela em si é esplendor suficiente para encantar
almas na eternidade aos pés de Deus
que está cansado de tanta fanfarrice,
se é que ele não é ateu.
Desejo tornar-me aquele rastro de nuvem azul-escura
Para roçar no telhado dos meninos lindos de cabelos pretos
que sonham com carros e grandes caçadas
e um dia escreverão poemas de amor tolos
Quero ser a nuvem que chega, não a que se vai para o horizonte
Como um desejo mal compreendido que não se satisfez.
Tuesday, January 29, 2008
A peça de jazz mais bela do mundo
(Thelonious Monk)
It begins to tell,
'round midnight, midnight.
I do pretty well, till after sundown,
Suppertime I'm feelin' sad;
But it really gets bad,
'round midnight.
Memories always start 'round midnight
Haven't got the heart to stand those memories,
When my heart is still with you,
And ol' midnight knows it, too.
When a quarrel we had needs mending,
Does it mean that our love is ending.
Darlin' I need you, lately I find
You're out of my heart,
And I'm out of my mind.
Let our hearts take wings'
'round midnight, midnight
Let the angels sing,
for your returning.
Till our love is safe and sound.
And old midnight comes around.
Feelin' sad,
really gets bad
Round, Round, Round Midnight
Monday, January 28, 2008
Proparoxítonos
Ermos plátanos
Turvos cálamos
Vivos ábacos
Canto úmido
Choro túrgido
Grito híbrido
Sono cúpido
Música bêbada
Bêbada tórrida
Tórridos ímpetos
Ímpetos ácidos
Secos álamos
Aos Infiéis
a espada
aos ímpios
a maldição
aos que derramam
o óleo sagrado
no chão da rua
e não tiram os sapatos
no templo branco
a espada
aos infiéis
a danação eterna
aos que se despejam
lentos sedentos obscenos
sobre a urna
a espada casta
sem misericórdia
aos infiéis
a noite sem lua
Flores - Meet the Flowers
Eat that daisy for breakfast
Breathe those heathers
in thru your dandelions
Observe minhas acácias
Beba meus licores de rosas
Lute com suas tulipas
Por melhores papoulas
Vista vitórias-régias estendidas
Como lençóis bordados de marias-sem-vergonha
Estude azaléias
E gradue-se copos-de-leite
Deite-se jacintos e desperte estrelítzia.
Earn some carnations
Kiss your lily
Bring back your poppy home
Smile your buttercup to me
Morra seus amarílis
Viva seus girassóis
Work your magnolia
Turn your orchid off
Reze lírios a Deus
Pague jasmins ao Demônio
Meet the Flowers on the subway train.
Inspirado em V. Williams
wild, wild and high
so high it is
become adult
precisely
and the wind
plays in the woods
lonesome flies
wild and tight
in the limit of fire
in the circle of fire
hungry tiger wild
among the trees
nonstop, falls
with the leaves
wild, and wild comes
the strengthening absence
cool, no remembrances
in the night that is wild
for the day will not be mild
any longer, my friends
wild, cool and far
the city from the star
bright and wild
and colorless mild
due to “The Lark Ascending”, poem by G. Meredith and music by V. Williams
Saturday, January 26, 2008
Poema para um carioca
Como a brisa que tange as cordas de uma guitarra
Quente e fria, aterradora e lânguida
Traz um perfume no silêncio da noite e desperta-me
A beleza que traz consigo o ardor de não saber
A beleza pérfida ou menina que corre na chuva
Beleza densa na praia, que caminha inconsciente
Como música de roda que as meninas vão entoando
Beleza, afasta-te de mim, deixa-me
Nada fiz contra ti, ao contrário, eu te canto,
Eu que sou namoradeira e vítima da beleza
Façamos um pacto: deixa os meninos a sós nas praias
Abandone-os, senão terei que apelar para a bruxaria.
Thursday, January 24, 2008
Ventando
Veio e desalinhou meus cabelos
Veio e foi-se a brisa, brincando ainda
Com meu vestido de moça triste
Como ventania que se acerca matreiro
das flores mal nascidas de pequeninas corolas
Veio e foi-se lançando ainda um olhar de saudade
Foi-se a brincar no meio do mundo com as folhas do pensamento
Valsando vestidos azuis e cartas voando
ao cemitério de anjinhos prematuros
Vai-se o diabólico vento alçando cantorias
Como veio semeando desejos antigos numa nave de não-sei-quê.
Doçura natimorta pela bruta poeira do dia.
Tuesday, January 22, 2008
Saturday, January 12, 2008
Poema curto
para meus amigos cantarem
num luau, beira-mar, no leito
quero um poema curto
como uma canção de ninar
para o meu amor do futuro
lembar-se de mim
na rua, no mercado, no ônibus
Poema curto, nao me atraiçoes
Canta para mim, acaricia
meus cabelos molhados
beija meus olhos fechados
Poema curto, adormece no seio
poema curto, assobia no escuro da mata.
Friday, January 11, 2008
Última Hora
Nus, estamos sob o julgamento
da fria grande lua.
Nus, somos prisioneiros
apenas do deus-sol.
Sejamos serenos
à hora da execução
Que me deram direito
a uns goles de vinho
e estou entregue
à paz dos videntes cegos
dos amantes sem consolo
dos criminosos sem perdão.
Cecília Meireles, vidente, artista
Alta noite, lua quieta,
muros frios, praia rasa.
Andar, andar, que um poeta
não necessita de casa.
Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono.
Um poeta, na noite morta,
não necessita de sono.
Andar...Perder o seu passo
na noite, também perdida.
Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida.
Andar... - enquanto consente
Deus que seja a noite andada.
Porque o poeta, indiferente,
anda por andar - somente.
Não necessita de nada.
Autor: Cecília Meireles
Tuesday, January 08, 2008
Poema de Adélia Prado
Há dentro de mim uma paisagem
entre meio-dia e duas horas da tarde.
Aves pernaltas, os bicos mergulhados na água,
entram e não neste lugar de memória,
uma lagoa rasa com caniço na margem.
Habito nele, quando os desejos do corpo,
a metafísica, exclamam:
como és bonito!
Quero escrever-te até encontrar
onde segregas tanto sentimento.
Pensas em mim, teu meio-riso secreto
atravessa mar e montanha,
me sobressalta em arrepios,
o amor sobre o natural.
O corpo é leve como a alma,
os minerais voam como borboletas.
Tudo deste lugar
entre meio-dia e duas horas da tarde.
Sunday, January 06, 2008
Lamento
mundo de jogos e argumentos
mundo de juízes e homens sérios
mundo cão
mundo onde pisam nas putas depois do abuso
mundo de papéis vulgares e frases feitas
mundo dos machos
mundo político, mundo dos gráficos
mundo das tabelas, mundo do mercado
mundo cheio de olheiras
mundo que não dormiu
mundo que não amou
mundo que bebeu café demais
mundo que se entupiu de leis e cárceres
e vozes imponentes violando a verdade
verdade quase nua com fino véu
verdade de pudor de menina
verdade com voz sussurrada no vento
verdade com útero e sem baionetas
mundo de misérias e berros
mundo de mijos contra os muros pichados
mundo de desejos reprimidos
em favor da maior potência
e do inchaço da pança da intelligentsia
jogos de videogames de meninos
jogos de cartas, contratos sociais
mundo de fumo e dentes amarelos
mundo funcional dos machos reprimidos
mundo cão, mundo-pistola, mundo fálico
Saturday, January 05, 2008
Wednesday, January 02, 2008
Afinal
Tem os grilos, as flores e os rios
o vento e a floresta, a montanha e tudo mais
Já cansei deles, não dos seres que habitam lá
mas das odes que escrevo, das quais eles não precisam.
Também não vou ser útil e começar a escrever
sobre os sérios infortúnios do mundo
os atentados, os assassínios, as fomes e os canalhas
Porque eu não sei escrevê-los, só odiá-los.
No final não sei mais o que escrever.
Meu cansaço me dá dá uma dor na cervical.
Não obstante, ouço um som na noite, um som de breu.